Em artigo no jornal ”Público” apressa-se a professora Filomena Viegas a informar de que «não chegou a Portugal uma nova gramática». Informação desnecessária pois todos vimos que a TLEBS é um amontoado de novos conceitos linguísticos, extremamente técnicos, que pretendem substituir e confundir, nos Ensinos Básico e Secundário, os já existentes na gramática clássica. A polémica, que se instalou, tem levado os mentores e os apoiantes da TLEBS a, pacientemente, explicitar que «tudo depende do bom senso do professor», acrescentando ainda a professora Filomena Viegas, que «a TLEBS não é drama nenhum». Eu acrescentaria que é tragicómico e porque é mais expressivo servir-me de exemplos justificativos, eis alguns deles: Pedra seria agora classificada para além de nome comum feminino do singular, como contável, não humano, não animado. Criança e testemunha, que na gramática clássica, e também em Lindley Cintra, se denominavam nomes sobrecomuns, transformam-se em nomes epicenos. Os antigos pronomes indefinidos, nomeadamente pouco, algum, muito, tanto... passaram a quantificadores indefinidos enquanto todo, ambos, cada, qualquer, se consideram quantificadores universais. O advérbio, que a TLEBS denomina também de modificador, quando o termo latino é perfeitamente compreensível para os alunos (junto do verbo, ou seja, que modifica o sentido do verbo), aparece também com subclasses: advérbios disjuntos, adjuntos e conectores. E repare-se nas várias subclasses semânticas em que se agrupam os advérbios disjuntos: advérbios disjuntos avaliativos (felizmente); advérbios disjuntos modais (possivelmente), advérbios disjuntos reforçadores da verdade da asserção (evidentemente) e advérbios disjuntos restritivos da verdade da asserção (supostamente). Não há dúvida que é uma questão de bom senso esquecer estas classificações.
Carta publicada no jornal "Público" 19 de Outubro de 2006.