O nome da moeda única europeia continua a oferecer dúvidas. A vogal da sílaba átona de euro é pronunciada com u ( símbolo fonético [u]) ou com o aberto (símbolo fonético [ó])?1 Do ponto de vista normativo interessa saber qual é a pronúncia mais adequada histórica e estruturalmente. Se uns empregam o nome da moeda única com [ó], muitos encaram-no como uma palavra grave e articulam a letra <o> como [u], ou seja, o som que é esperar na posição átona final de uma palavra em português, incluindo a variante do Brasil (cf. porto, canto, debaixo).
Consultados os especialistas do Ciberdúvidas, definem-se duas posições:
I. D’Silvas Filho, F. V. Peixoto da Fonseca e A. Tavares Louro, reiterando uma resposta anterior de José Neves Henriques em, consideram que a forma correcta é a que tem [u], sendo inaceitável a forma com [ó].
II. Regina Rocha não considera incorrecta a pronúncia [ewró].
Passemos em revista os argumentos das duas posições:
Posição I (A. Tavares Louro, D’Silvas Filho, F. V. Peixoto da Fonseca e José Neves Henriques)
1. Como palavra autónoma, o nome euro é uma palavra grave, pelo que o -o átono final terá de ser pronunciado como [u]. Pronunciar euro com [ó] é um erro, porque é confundi-la com o elemento vocabular euro-, este sim, com [ó] (F. V. Peixoto da Fonseca).
2. Os defensores desta posição observam o reduzido número de palavras graves com [ó]: moto, expo. Estes casos tendem a ser regularizados, por exemplo, pela mudança de marcador de género (a mota).
3. Neste contexto, a palavra metro é ilustrativa da regularização desta pequena série de palavras. Trata-se de uma redução ou truncação de metropolitano, mas cujo aparecimento terá sido motivado pelo francês metro. No Brasil, manteve-se a vogal [o] ("o fechado") da palavra francesa importada e a acentuação na última sílaba, ou seja, legitimando a forma aguda [mé'tro] com a grafia metrô. Em Portugal, a palavra passou a grave, estando sujeita à regra do vocalismo átono na última sílaba; daí ['métru]. Este exemplo mostra que tanto no Brasil como em Portugal se evitou a criação de uma palavra grave com [ó] na última sílaba pós-tónica.
4. No entanto, o caso de expo, com [ó], mostra que há resistência à regularização, o que pode ter sido motivado pela atitude dos falantes portugueses, que começaram a realizar essa pronúncia como forma de tornar a palavra compatível com um acontecimento de alcance internacional (D’Silvas Filho). Esta sugestão remete já para o domínio da sociolinguística, designadamente para o modo como os falantes avaliam o prestígio de certas formas de elocução em função do egisto e do domínio de referência.
Posição II (Regina Rocha)
1. A pronúncia de euro não tem de seguir o modelo de acentuação de palavras graves como dedo. O caso de expo apoia esta perspectiva, porque se usa com [o] ou [ó] em posição átona.
2. A pronúncia com [ó] encontra apoio não no radical euro-, que significa "europeu" e "referente à Europa"em eurodeputado e euromercado, mas sim na forma euro, que aparece com [ó] em eurodólar e eurozona, já como designação da moeda.
3. Esta posição não contesta a correcção de euro/[ewru], mas alerta para a aceitabilidade de euro/[ewró].
Em suma, os especialistas do Ciberdúvidas estão fundamentalmente de acordo quanto a recomendar a pronúncia [ewru]. Um deles (Regina Rocha) mostra, porém, que a estrutura e o uso do item em causa podem não ser ainda típicos do conjunto das palavras graves do género masculino do português.
1Para facilitar a leitura, não usamos os símbolos [ɔ] e [ɛ] que, no Alfabeto Fonético Internacional, correspondem aos sons abertos representados pelas letras o nas palavras pó e moro, e e em pé e fera. Em seu lugar, empregamos os símbolos [ó] e [é]. Os símbolos [o] e [e] indicam os sons fechados que ocorrem em primeira sílaba nas palavras tolo e cedo. O sinal ' indica que a sílaba que se lhe segue é tó[ô]nica (por exemplo, ['móru]).