Ponto prévio: Ciberdúvidas não ministra cursos universitários, daqueles em que se descreve academicamente a história da língua e se divaga sobre as ramificações da sociolinguística. O que se propõe é bem mais simples. Se calhar, até mais difícil: ajudar a resolver as dúvidas que se colocam ao comum dos lusofalantes, do ponto de vista da ortografia, da sintaxe ou da simples pronúncia.
Dirige-se à vasta comunidade lusófona com acesso à Internet e, nesse pressuposto [cf. 1ª Abertura, de 15.01.97], tem procurado orientar todas as respostas dos seus consultores, numa perspectiva aberta à diversidade em que assenta o mundo que fez do português a sua língua oficial. Prova disso, se necessário fosse, são as várias rubricas de Ciberdúvidas - das Controvérsias às já anunciadas Diversidades. Ou, até, a própria filosofia subjacente na recolha dos textos para a secção Antologia.
1 - A verdade, porém, é que a maioria dos consulentes que se nos dirige quer saber mais. Muitas vezes, qual a norma adoptada, por razões até profissionais. É o caso dos jornalistas sobre o plural desta ou daquela palavra. Ou dos médicos sobre o uso do hífen, neste ou naquele termo. Ou dos informáticos, que querem um esclarecimento sobre o melhor aportuguesamento de determinado estrangeirismo. É provável que, por isso mesmo, se tenha caído numa ou noutra involuntária rigidez.
2 - Não é o caso, manifestamente, dos exemplos apontados, sobre a pronúncia de texto e poça. Pela simples razão de que em nenhuma resposta se admitiram, alguma vez, as duas variantes /pôça/ e /póça/. O que se escreveu (coisa bem diferente) é que, em certas regiões, se diz /pôças/ e, noutras, /póças/. Como também se vai ouvindo por aí (vide TV) /trêvas/, em vez de /trévas/. Se um locutor se dirigisse a Carlos Sousa Ferreira (CSF) para se elucidar sobre como pronunciar uma e outra palavras, incluindo a dúvida sobre /Saragôça/ "vs" /Saragóça/, que ajuda levaria ele, de concreto? Ou será que é "pedagogia da palmatória" indicar qual a pronúncia-padrão, como consta em qualquer livro de estilo de qualquer emissora preocupada com a sua própria língua (é o caso, em Inglaterra, da BBC com o inglês)?
3 - Ou, noutro exemplo mais comum, com os sucessivos atropelos ao verbo haver, agora tão na moda entre políticos e gente do audiovisual. Acaso se deve legitimar este tipo de barbarismos, por mais que a sua repetição tenha o efeito multiplicador do erro e do disparate?
4 - Repete-se: estamos a responder a quem quer saber e não numa prédica de linguística.
5 - Por já respondidas anteriormente, remetem-se as demais questões, do "black-out" e das letras k, y e w, para os textos «Norma linguística, desvio e erro» e «K, w e y não são portugueses» — isto apesar de o acordo ortográfico de 1990 reintroduzi-las no nosso alfabeto. O acordo ainda não está em vigor, não foi ratificado pelos sete governos dos países de língua portuguesa (e não se sabe quando o será), pelo que a resposta em questão ainda é válida.
6 - CSF, no seu primeiro texto, refere-se em termos menos próprios aos «puristas e gramáticos» de Ciberdúvidas e, no segundo, queixa-se da agressividade de João Carreira Bom - que nunca se poderia dirigir à memória respeitada de Vasco Botelho do Amaral, mas a quem utilizara, inadequadamente, uma citação deste fundador da Sociedade da Língua Portuguesa.
7 - CSF insiste em citar Botelho do Amaral, quando implora «à Filologia o regresso à vida», à «terra firme onde se fala de outra maneira». Desta vez não nos insulta, mas deixa entender que ainda não percebeu - ou não quer perceber - o que é Ciberdúvidas da Língua Portuguesa: um espaço interactivo. Portanto, o contrário de um reduto fechado. Se assim não fosse, porque nos daríamos ao trabalho - e ao gosto - de lhe responder?