[1.] O Ciber hoje ultrapassou tudo o que é de esperar nesta sua exposição pública de saberes.1 Depois de errar na descrição sintáctica duma frase, não corrige o erro, mas cria uma nova frase, cuja análise sintáctica nos apresenta e justifica.
Não está certo!
Diz hoje Ana Carina Prokopyshyn:
«Retomemos a frase «Lépido, filhote de Valente, um indômito de quatro anos, estava ontem deitado no pasto, sem sela, relinchando, quando foi laçado» e construamos uma nova frase com os constituintes relevantes para a análise que contestou:
(i) "Lépido estava deitado sem sela."»
Isto é uma desonestidade! A Ana modifica a frase, e vem demonstrar que a fase modificada contém um circunstancial de modo. Que conceito é esse de honestidade? Devo, aliás, dizer-lhe que na frase modificada não é seguro que sem sela fosse circunstancial de modo. Mas...não falemos hoje disso.
A frase da discórdia é:
«Lépido...estava ontem deitado no pasto, sem sela, relinchando.»
Não há hipótese alguma de os três constituintes «deitado no pasto», «sem sela», «relinchando» terem outra função que não seja a de predicado (predicativos do sujeito). E repito: «sem sela», naquela frase, é predicativo do sujeito.
É sempre com desagrado que se diz a alguém que errou. E a mim custa-me muito. [...]
[...] 2. A análise de situações sintácticas é um estudo apaixonante, e confesso que a ele tenho dedicado uma grande parte dos meus estudos. Há muitos anos. Foi hábito de pequeno, com grandes Mestres. E todos eles me ensinaram que podemos analisar situações sintácticas idênticas em frases muito variadas — mas que não podemos mudar o sentido duma frase, e, por ela, tentarmos provar a descrição de situações aparentemente semelhantes. Em sintaxe, descrições iguais só são possíveis em situações iguais.
A nossa Colega alterou uma frase, mudou-lhe o sentido — e pretendeu, assim, provar que não existia erro na sua descrição. É contra isso que eu me insurjo. A sua descrição está errada!
Nota final: Devo dizer-lhe que, mesmo na frase modificada, eu continuaria a considerar a existência de um predicativo e, nunca, a de um circunstancial — mas isso seria já outra questão. A Colega errou, o que não é grave, mas não pode defender o erro, projectando-o sobre mim.
1 N. E.: O texto aqui apresentado tem duas partes correspondentes a duas mensagens que o consulente nos enviou por correio electrónico em 26/09/2008, na sequência da publicação de uma resposta de Ana Carina Prokopyshyn, a qual se encontra agora disponível nas Controvérsias com o título «Sem sela» é complemento circunstancial. Embora nos pareça excessivo o tom da primeira das mensagens de Virgílio Dias, não interviemos nos originais a não ser para suprimir passagens que não diziam directamente respeito ao tema em debate.