Na resposta intitulada "Ser cego e não querer ver", escreviam José Mário Costa e José Neves Henriques (in Controvérsias anteriores):
"Ponto prévio: Ciberdúvidas não ministra cursos universitários, daqueles em que se descreve academicamente a história da língua e se divaga sobre as ramificações da sociolinguística. O que se propõe é bem mais simples. Se calhar, até mais difícil: ajudar a resolver as dúvidas que se colocam ao comum dos lusofalantes, do ponto de vista da ortografia, da sintaxe ou da simples pronúncia."
Ora, vejamos:
No dia 24 de Setembro, José Neves Henriques faz a seguinte resposta para uma simples dúvida:
"Que significa escreverem «joão da silva» em vez de João da Silva? Pode significar várias coisas:
a) Ignorância das regras da ortografia dos nomes próprios.
b) Gosto de introduzir inovações naquilo que está bem estabelecido.
c) Gosto de se evidenciar para se tornar diferente do comum das pessoas.
d) Vaidade e/ou presunção.
e) Gosto de imitação.
Tudo isto e outras particularidades que se poderiam acrescentar são mostras de ignorância e/ou de inferioridade – pelo menos parece."
Admito à partida que a formulação da pergunta deixa uma ampla margem de manobra a quem responder e que, talvez por isso, o "duvidicida" se tenha deixado arrastar pelo estonteamento provocado pela erudição. O que possa eventualmente fornecer um início de explicação, mas em caso nenhum uma justificação pelo tom de sobrançaria que caracteriza esta alfabeticamente organizada resposta.
Não há, e não pode haver, qualquer controvérsia em relação à resposta fornecida no ponto a): a simples ignorância das regras constitui, na maior parte dos casos, a explicação a mais coerente e denota um bom senso digno de ser frisado.
O mesmo já não acontece com os restantes pontos e com a conclusão. Em prol da concisão, bastará dizer que o erudito autor da resposta perdeu de vista (por razões que não me compete analisar) as regras que ele mesmo exibira e deixou derivar a sua mente nas turvas águas da psicologia, para não falar dos sorvedouros da moral. Seria pura crueldade sublinhar aqui que isso pouco tem a ver com uma elucidação das dúvidas "do ponto de vista da ortografia, da sintaxe ou da simples pronúncia"...
Além disso, e é aqui que reside a minha dúvida, desconfio que tal resposta possa ajudar um jovem, por exemplo, a entender o "porquê" e o "como" das regras da ortografia ou da sintaxe. (O "pelo menos parece" só indica que o autor está ciente dos seus actos...) Vejo, pelo contrário, um poderoso incentivo à vã "rebelião" contra as "regras". Se for este o intento, retiro obviamente e humildemente as minhas palavras e volto a estudar a língua portuguesa, que me dá tão numerosas enxaquecas que já não sei se um dia hei de conseguir escrever em português(1).
Cordiais saudações (2),
(1) Por isso, não levarei a mal as correcções que poderão fazer.
(2) A minha cordialidade não é fingida: acredito que se possa combater as ideias ou as palavras sem travar um combate contra a pessoa que as emitiu.