Gostaria de compartilhar esta reflexão a propósito da resposta «De mim mesmo», onde se considerou a frase «Quero compartilhar fotos de mim mesmo cantando» como a que «melhor se adequa às regras formais da língua portuguesa».
Sempre que se justificar e tiver oportunidade para tal, não deixarei de chamar a atenção para o empobrecimento da comunicação verbal, que uma abordagem puramente formal e normativa implica. Insisto: só o respeito pela intencionalidade do comunicador e pelas subtilezas de que a língua é capaz potencia todo o rigor e toda riqueza semântica da mensagem transmitida.
O caso presente é um bom exemplo:.
Os dois períodos, que constituem o conteúdo da pergunta, são apresentados e respondidos como se de opções se tratasse. Mas não são opções, porque transmitem ideias diferentes. No que às fotos diz respeito, “… fotos de eu mesmo cantando.” releva o conteúdo e “… fotos de mim mesmo cantando.” releva a propriedade. Por isso, no primeiro caso, o eu é sujeito de uma predicação subordinada e, no segundo, o mim limita-se a modificar (antigo complemento determinativo) fotos.
Conclusão:
Ambas as formas são possíveis, porque expressam intenções diferentes. Não ter isto em conta é redutor, empobrece a língua e, no limite, torna a literatura impossível.