Para fixar inúteis, pretensiosas e ridículas bizantices, perde o estudante o tempo que deveria dedicar ao conhecimento efetivo da língua. A vida moderna não pode dar guarida ao que a desvia do seu destino profissional e técnico. O ensino do vernáculo nas escolas secundárias do Brasil, como o é nas da Inglaterra, da França, da Alemanha, dos Estados Unidos da América, da Rússia, deve ser utilitário, e não provocador de diploma enganador. Que proveito traz à nação brasileira ensinar à sua gente a formação, a emissão dos sons e da voz humana, com desprezo de ensinamentos fundamentais, como o da conjugação dos verbos? Que adorno cultural representa um diploma de lingüística a quem escreve, ou deixa meia dúzia de vezes passar num mesmo artigo de jornal, os mais tolos erros de gramática?
A lingüística não estuda idioma nem gramática nenhuma, a lingüística estuda a fala, explica fatos naturais de articulação, de formas de expressão oral do ser humano; como estudo da estrutura das línguas em geral, não vai além da fonética. Enganam-se os pais, enganam-se os filhos quando pensam estar a escola, a faculdade ensinando gramática, ensinando a língua da terra porque no programa consta ‘lingüística’. O objeto da lingüística é a língua no sentido da fala, de dom de expressar o homem por palavras o pensamento; é um estudo sem utilidade específica para este ou aquele idioma. Privativa é a filologia, que especifica um idioma ou um grupo de idiomas; existe uma filologia latina, uma filologia árabe, não porém uma lingüística árabe, uma lingüística latina, nem muito menos uma lingüística portuguesa. É um dos grandes enganos de certas faculdades de letras fazer alunos acreditar que estão a aprender a língua de sua terra com explanações de estrutura da fala do homem. É a lingüística um dos estorvos do aprendizado da língua portuguesa em escolas brasileiras.
Texto escrito em português do Brasil. «Dicionário de Questões Vernáculas», Napoleão Mendes de Almeida, LCTE, São Paulo, Brasil, 1994. Cf. o contraponto destas Controvérsias.