Quando fiquei a saber da existência se um site na Internet que nos resolvia as dúvidas da língua portuguesa, achei fenomenal.
Quando visitei o Ciberdúvidas fiquei maravilhado, como diz o outro. Cheguei mesmo a expôr algumas das minhas dúvidas na secção própria. Acontece que não sei se é credível. A Sociedade da Língua Portuguesa não é o que eu pensava que era e o Ciberdúvidas revelou-se uma decepção. Pelo menos as pessoas que respondem às nossas dúvidas. O meu conterrâneo José Pedro Machado é conceituadíssimo, mas, pelo menos nos Ensaios Literários e Linguísticos, diz asneiras que até ferem a sensibilidade dos leitores. Mas não é o único. Em todo o Ciberdúvidas vemos contradições com o que se vê, ou o que se tolera, na Nova Gramática do Português Contemporâneo dos mais que afamados (mas desta vez com razão) linguistas da língua portuguesa: Celso Cunha e L. F. Lindley Cintra e aquilo que lemos na literatura. Passo a aspectos específicos, referindo-me a J. Pedro Machado.
Assim: vendem-se casas para este senhor está erradíssimo e expõe quase um doutoramento sobre esta asneira. Na gramática de Celso Cunha observamos que se consideram casas o sujeito, pelo que o verbo vai para o plural. Quanto ao outro aspecto, cheguei mesmo a perguntar ao Ciberdúvidas para que tivesse a certeza. O Ciberdúvidas deu-ma e afinal aparece-me à frente variadas vezes exactamente o que os senhores acham errado. Refiro-me à concordância que normalmente se faz entre o vosso/a(s) e a terceira pessoa do plural como pronome de tratamento. Segundo a N. Gram. do Português Contemporâneo, isso tem explicação: chama-se silepse e não está errado. Para além disso, na tradução de o Anfitrião de Plauto de Louro Fonseca (Edições 70) para português faz-se essa concordância e que outra obra melhor para dar um exemplo que Os Maias? Já experimentaram ler? É uma obra de Eça de Queirós! Tem-se falado muito nele! É o escritor português que é posto por muitos críticos acima de Camões. A concordância é feita com naturalidade. Para além disso não há ninguém que faça a concordância que todos os senhores do Ciberdúvidas dizem ser a mais correcta.
O pior é quando os senhores se lembram de escrever no Pelourinho os erros que se ouvem ou se escrevem. O Sr. João Carreira Bom é um génio e não dá/diz/comete um erro! Basta ler o que diz sobre a maneira de ler Expo ** pelo Prof. José Hermano Saraiva. Não percebo estes senhores. Será que não sabem como é que se descobriu a pronúncia clássica do Latim? Entre outros, através dos erros ortográficos. Habet apareceu escrito abet, e ficou a saber-se que não se lia o H.
Para além disto, quer-se mais arrogância do que a forma como os senhores escrevem nalguns casos? Só há uma senhora simpática aí. Não sei o nome dela, que me desculpe... Mas é professora de Latim e Grego...
A literatura e os erros dados pelos romanos podem não ser grandes razões para que eu pense assim. Mas servem. Se as pessoas dizem de uma maneira, há literatura que vai nesse sentido, os verdadeiros gramáticos toleram, porque não fazer disso regra?
Como diria a Magda do Sai de Baixo, o pior cego é aquele que não quer ouvir!