Francisco Rebelo Gonçalves, no "Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa" (Coimbra Editora, 1947), faz a distinção entre:
a) a «associação de um adjectivo e um substantivo em normal concordância» numa saudação;
b) palavras compostas por esse substantivo e esse adjectivo.
Assim:
- boas noites e boas-noites;
- bom dia e bom-dia;
- boas festas e boas-festas;
- boas entradas e boas-entradas;
- boas vindas e boas-vindas, etc.
Na obra citada, Rebelo Gonçalves inclui boa-noite entre os exemplos de palavras formadas por um adjectivo e um substantivo. Acrescenta a seguinte nota:
«Não se trata de conhecidas palavras de saudação (ex.: boa noite, minha mãe; muito boa noite, meu pai), porque estas não formam um composto e, portanto, não se ligam por hífen (...).» Boa-noite é «um vocábulo composto que vale o mesmo que noitibó (*). Variante: boa-noute.»
Segundo o autor do "Tratado de Ortografia", não se faz a união com hífen destes adjectivos e destes substantivos nas frases em que desejamos boas festas, boas entradas, boas vindas ou bom dia (ex.: boas entradas, Francisco!), «porque constituem mera associação de um adjectivo e um substantivo, o primeiro em normal concordância com o segundo (...). Em frases como dar as boas-festas, enviar um cartão de boas-festas,etc., tais palavras já se unem desse modo, porque formam um composto(...).» (Ex.: Pedro deu as boas-noites ao pai; Manuel deu as boas-vindas ao Francisco.)
Eis o fundamento da resposta que assinei em Junho de 1997 (Bom dia, Maria). No tratado de Rebelo Gonçalves, quanto a esta destrinça, baseiam-se também alguns prontuários - como o de D'Silvas Filho (**), consultor de Ciberdúvidas.
Outra opinião, todavia, tem o professor José Neves Henriques, que muito me tem ensinado e faz o favor de me distinguir com a sua estima. Mas a polémica não é comigo. É com Rebelo Gonçalves. Ou melhor: com o "Tratado Ortográfico" que nos legou.
(*) Noitibó: o mesmo que boa-noite (ave). Do latim "noctivulu-" = que voa de noite.
(**) Texto Editora, Lisboa, 1998.
Cf. o contraponto deste texto: Boas-noites, outra vez