João Costa, Presidente da Associação Portuguesa de Linguística, escreveu que se «tornou moda» comentar a Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, a célebre TLEBS. Não se tornou moda, tornou-se, sim, preocupação séria, por implicar uma questão tão importante como o ensino da língua portuguesa. Por isso, gostaria, neste debate que felizmente nasceu, de poder corroborar posições que considero correctas e de poder questionar aquelas que me parecem não o ser. Não se trata de defender as inocentes crianças, vítimas da TLEBS, como jocosamente tem aparecido, em relação a posições de muitos dos que vêem com apreensão esta nova terminologia, mas, isso sim, tendo em conta o respeito máximo que o aluno merece, ponderar se tal terminologia é a resposta adequada ao consensual desejo de uniformização na nomenclatura gramatical, com vista ao correcto uso da língua materna.
Estou convencida que até (!) os professores de Português formados antes de 1984 (para utilizar uma data avançada pela doutoranda em Linguística, Helena Soares) reconhecem a necessidade de se proceder a alterações conceptuais e terminológicas, trazidas pelos avanços na ciência da linguagem, não discordando, nesse aspecto, do que diz Maria Helena Mira Mateus, co-autora da TLEBS (...). A questão não é essa, mas a de saber adequar, a alunos dos ensinos básico e secundário, em diferentes etapas de escolaridade, conceitos e designações que, na novel terminologia, só convêm a alunos universitários. Porque, diga-se como exemplo, o tal epiceno da nossa infância a que se referia aquela ilustre linguista designava um conceito muito simples, perfeitamente compreensível pelos alunos a que se destinava. Não é o esquisito dos termos que preocupa nesta questão, é a desnecessária profundidade e perversa complexidade para que eles remetem. Aliás, essa complexidade é reconhecida pela equipa ministerial que aconselha o professor a ter o máximo cuidado na transposição da terminologia para a sala de aula. Maria Helena Mira Mateus, naquele seu artigo, diz mesmo que o professor deve fazer perceber aos alunos certos conceitos, sem precisar de os obrigar a decorar o termo. E volta a insensatez de tal terminologia que, pelos vistos, é para ser utilizada, mas com reservas… A ser assim, em vez de se conseguir uniformização de nomenclatura, aparece a maior disparidade de procedimentos, fora do objectivo que se pretendia atingir.
Como sou optimista e como acredito que a tão discutida terminologia está em experiência e em revisão, apetece-me apropriar-me de palavras de Eduardo Prado Coelho e pedir à senhora Ministra que suspenda este processo e repense tudo. Não será pedir-lhe que recue nesta candente questão, mas que avance nela com dignidade.
In "Público" de 9 de Dezembro de 2006.