O texto «Um consultório sem fala» assinado pelo senhor Pedro Peres, linguista ao que parece, não pode passar sem o seguinte comentário: com a frase «A linguística é o estudo da língua como ela é e não como se gostaria que ela fosse» estou plenamente de acordo. É, porém, um dado adquirido que, se não fossem os «caturras», mais ou menos «gramaticões», que sempre houve desde que existem línguas escritas, a linguagem, expressa nas milhentas línguas do género humano, teria evolucionado muitíssimo mais.
Eu, que sou abertíssimo, por exemplo, a uma quase extrema simplificação ortográfica, que nunca foi feita nem o será tão cedo, mau grado os acordos luso-brasileiros (passado - o de 1931 -, presente - o de 1945 - e futuros -tentativas como as dos anos 80 e 90), não concordo com a «tareia» dada pelo autor, a qual não vou escalpelizar, por demasiado injusta, pelo menos pelos «atestados» que passa a pessoas que já conheciam os autores citados (e muitos outros, estrangeiros e, claro, igualmente nacionais), quando Pedro Peres decerto ainda era menino e moço.
Nunca é de mais repetir que é dever de todo o lusófono zelar «normativamente» pela língua comum, apesar de todos os Chomsky e quejandos, procurando contrariar as asneiras da fala e da escrita, não alardeando certezas (muitas vezes impossíveis), mas visando fazer contravapor relativamente ao abastardamento da língua oral (a tal fala!) e escrita. São afirmações arrojadas (é o mínimo que se pode dizer!) meter os intervenientes no Ciberdúvidas numa espécie de barril do lixo.
O que se diz nos dois últimos parágrafos (isso, sim, "ex-cathedra") do artigo referido não dá novidades a ninguém, nem mesmo ao mais modesto dos principiantes e faz mostra de pseudociência, misturando os objectivos da linguística com os de quem tenta esclarecer dúvidas daquilo que é costume designar por bom português, que cumpre a todo o professor da nossa língua defender na medida das suas forças, a fim de obviar o mais possível a que muita gente estrague o que temos de mais precioso, incluindo (porque não?) os linguistas, numa espécie de ecologia, que já tem sido apelidada de «terapêutica verbal».