Quanto aos comentários do Professor José Neves Henriques a respeito das afirmações por mim feitas sobre a propriedade do uso da expressão "anos sessentas", vejo-me na situação de externar as seguintes considerações:
1- Com efeito, o aposto nem sempre concorda com o termo fundamental, principalmente se se trata de aposto explicativo, como muito bem o demonstrou o prezado Professor. Como no caso em tela se examina um aposto especificativo, que vem ligado diretamente ao termo fundamental (sem estar separado por vírgulas, portanto), inconscientemente não mencionei a expressão "neste caso" na oração "que o aposto deve concordar com o fundamental".
Observe-se que escrevemos: meus tios Carlos e Samuel; os reis Luíses da França; os estudantes Joões (se houver, numa hipotética sala de aula, dois estudantes de nome João); os meses de abril e junho; etc.
Assim também podemos escrever: "os anos de 1960 e 1961" ou "os anos 1960 e 1961", com a supressão da preposição.
2- Não vejo inconveniência em substantivar os anos de uma década para significar essa época.
Ex.: Nos sessentas, a humanidade mudou de rumo. Nos setentas, a minha vida foi que mudou.
3- O fato de a expressão "anos sessenta" estar em uso há muito tempo, de todos entenderem o que significa e de com ela estarem acostumados os ouvidos não quer dizer que esteja correta, pelo menos na minha opinião, uma vez que é clara a falta de concordância entre "anos" (plural) e "sessenta" (singular). E a concordância entre dois vocábulos normalmente se deve fazer seguindo a sintaxe, e não critérios lógicos, como o de considerar que sessenta já evoca a idéia de plural.
4- Considerar que "anos sessenta" seja redução de "anos da década de sessenta" pode conduzir a uma explicação do uso do singular, mas não justificá-lo, creio eu, já que, como disse acima, a concordância se deve fazer tendo em vista o que está escrito. Caso contrário, poder-se-ia escrever, alterando o exemplo supracitado: "os reis Luís", justificando tal espúria expressão com a elipse de termos nas frases "os reis que receberam o nome de Luís" ou "os reis de nome Luís".
Salvo melhor juízo...
Texto escrito em português do Brasil.