Isto são minidúvidas, mas não se pode dizer sem mais nem menos que em ingês não há black-out com hífen. Na realidade, o inglês, tal como o português, o espanhol, o francês, o alemão e o sueco (e, provavelmente, algumas outras que eu desconheço), são línguas que registam diversidade de grafias consoante as unidades geopolíticas que as utilizam. Ignoro a grafia australiana, sul-africana, etc. Mas sei que em inglês de Inglaterra, ao contrário do inglês norte-americano, é norma a utilização do hífen em deverbais. E é assim que termos como lock-out, black-out, make-up e quejandos são grafados, por exemplo, no Oxford Dictionary.
Passando a uma outra questão, também de somenos. É voz corrente vocês no Ciberdúvidas sustentarem que k, w e y não são letras do alfabeto português. Vejo nisso um contra-senso, pois há palavras portuguesas que, nos termos das normas ortográficas vigentes, devem grafar-se com essas letras. Não sou dos que aceitam argumentos de autoridade, mas repare-se no que consta das Instruções, aprovadas pela Conferência de 1945: "O alfabeto português consta fundamentalmente de vinte e três letras". Note-se o fundamentalmente. E, mais adiante: "Além dessas letras, há três que se usam em casos especiais: k, w e y."
Passando agora a um questão mais importante. A mim me parece que vocês seguem um caminho inglório, pedante até, quando pretendem fixar a pronúncia correcta, aberta ou fechada, de certas vogais tónicas, ou ainda a de certos ditongos, sem atender à legítima diversidade de fonias das diversas regiões do País. Atente-se a este respeito a observação feita por Rebelo Gonçalves, já em 1945: "O acento agudo no a, e, o de pronúncia não invariável no Brasil e em Portugal serve apenas para indicar a tonicidade, e não o timbre."
Para terminar: penso que o Ciberdúvidas é útil como registo das dúvidas dos falantes, embora muitas delas sejam já velhas de pelo menos 50 anos e as respostas continuem a ser as mesmas. Dizia Vasco Botelho de Amaral, já lá vai meio século, que homens inteligentes era "coisa um pouco rara entre puristas e gramáticos, valha a verdade".
Cf. o contraponto desta controvérsia.
Cibernota — Consultada de novo sobre a querela do "black-out" com ou sem hífen, a dra. Helena Pecante confirmou as suas anteriores posições: «Tanto no Dicionário de Oxford como em muitos outros consultados, regista-se a forma black-out (com hífen) (n.), isto é, como substantivo.
A forma black out (sem hífen) é a única registada como verbo.»