Em boa hora apareceu a entrevista da jornalista Bárbara Wong ao director-geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular, no dia 5 de Janeiro, porque através dela ganhámos a certeza de que o ensino continua em boas mãos, nomeadamente no que se refere à disciplina de Português.
Releio, a propósito da TLEBS, a frase criada pelo sr. director-geral, num rasgo expressivamente inovador – «A língua não é uma vaca sagrada imutável» –, e não posso deixar de lhe admirar a imaginação e o espírito criativo. Um belo exemplo para descodificar nas aulas, com o auxílio da TLEBS, procurando também levar os alunos a reflectir sobre essa relação pela negativa entre «língua» e «vaca sagrada», ainda por cima «imutável». Uma única frase e que riqueza exuberante!
Os argumentos inquestionáveis e brilhantes do director-geral, acerca dos «instrumentos óptimos» que são os textos literários, fazem-nos pensar quão melhores seriam "Os Lusíadas", os sermões de Vieira, "Os Maias" ou os poemas pessoanos se os seus autores tivessem tido a felicidade de conhecer e lidar com a TLEBS, esse precioso «auxiliar da gramática» que veio revolucionar o ensino do Português.
Agradecemos, reconhecidos, aos autores da TLEBS, o fim da idade das trevas em que vivíamos. Finalmente, surgiu «uma ferramenta útil para a descodificação dos textos literários». Foi isto que, infelizmente, o poeta Vasco Graça Moura não compreendeu, quando tão maltratou o trabalho de descodificação de uma estrofe de "Os Lusíadas" à luz da TLEBS, que o Ministério, aliás, retirou injustamente do seu "site", logo após o artigo maledicente de Graça Moura.
Ficámos a saber, com pesar, que afinal «nunca haverá» uma TLEBS «correcta» e que a mesma poderá sofrer alterações à medida que se forem detectando erros, na prática lectiva, o que é natural e próprio de «qualquer área científica». No entanto, esse gesto de profunda humildade calará os opositores e os resistentes à mudança, quer da área da literatura, quer da área da linguística.
E «como alguma coisa tem de ser feita para que os alunos possam escrever, ler e falar melhor», cumpramos escrupulosamente as directivas inovadoras desta nova reforma, «respeitando os interesses dos alunos e o discurso que trazem de casa» e leccionando todos «os saberes em contexto escolar», num ambiente lúdico e de saudável irreverência.
in "Público" do dia 14 de Janeiro de 2007