O correspondente que assina Carlos Sousa Ferreira (CSF) começa por imputar a Ciberdúvidas uma afirmação inexistente: «Em inglês, não há "black-out" com hífen». Procure-se nas Respostas Anteriores! CSF delirou. Ou, então, está de má-fé.
Animado pela energia da imaginação, CSF «ensina-nos» a diversidade da língua inglesa e, a seguir, tenta demonstrar que o reputado helenista e latinista Rebelo Gonçalves - só pelo facto de ter admitido a sua utilização em casos especiais - autorizou o k, o w e o y como letras do alfabeto português.
CSF esquece-se de explicar, todavia, o motivo por que, sendo assim tão liberal, Rebelo Gonçalves não deixou de causar grande controvérsia ao adoptar, no "Vocabulário" da Academia das Ciências, topónimos como Vashintónia (em vez de Washington). Precisamente, um dos casos que suscitaram o comentário do dr. José Neves Henriques, que CSF critica.
A fantasia do nosso correspondente estende-se, depois, a outro tema: Ciberdúvidas não atende «à legítima diversidade de fonias das diversas regiões do País»! Em que respostas se fundamenta? Não se dignou especificar nenhuma.
O último parágrafo de CSF atinge a grosseria: «...Penso que Ciberdúvidas é útil como registo das dúvidas dos falantes, embora muitas delas sejam já velhas de pelo menos 50 anos e as respostas continuem a ser as mesmas. Dizia Vasco Botelho do Amaral, já lá vai meio século, que homens inteligentes era "coisa um pouco rara entre puristas e gramáticos, valha a verdade".»
Quando reduz a utilidade do nosso trabalho ao «registo das dúvidas dos falantes», CSF poderia ter sido mais coerente com afirmação tão categórica: para comunicar connosco, em vez de utilizar a escrita, dever-nos-ia ter telefonado ou enviado a fala em fita magnética. Se a escrita não tem importância nem suscita dúvidas, para quê utilizá-la?
CSF não se contenta com o facto de a língua registar mutações todos os dias. Quer que ela, todos os dias, mude toda. Ou, afinal, admitirá que ela muda totalmente, mas só de ano a ano? Ou de dez em dez anos? Talvez eu exagere: ele fala em meio século. Segundo CSF, de meio em meio século, muda a totalidade dos elementos que constituem a língua e, no meio século seguinte, já não há vestígios do meio século anterior.
Para se exprimir com inteligência tão reveladora, CSF não precisa de ser purista nem gramático.
Cf. o contraponto desta controvérsia.