São de interesse as observações que o prezado consulente apresenta sobre a concordância do verbo em frases cujo sujeito é uma percentagem. É assunto um tanto controverso. Por vezes não é fácil apresentar regras fixas. Vejamos, então, as seguintes frases:
(1) 25 por cento ficou em casa.
(2) 25 por cento ficaram em casa.
(3) 25 por cento da população escolar ficou em casa.
(4) 25 por cento dos alunos ficaram em casa.
(5) 1 por cento dos alunos ficou em casa.
Nas frases de (1) a (4), o sujeito indica uma pluralidade, que não está bem marcada, excepto na frase (4) pela presença do substantivo alunos.
Na frase (5), o sujeito indica pluralidade se os alunos forem 200 ou mais.
Como sabemos, a concordância do verbo é geralmente lógica: o verbo concorda com o sujeito. Por isso, temos: O aluno estuda. Os alunos estudam.
Mas há frases em que a concordância do verbo não se faz com o sujeito, mas:
a) com o sentido;
b) com um elemento cujo significado nos toca a sensibilidade;
c) com a visualização que a frase ou determinado elemento da frase nos origina.
No emprego do verbo, importa também o contexto da frase e a situação em que foi empregada. Por isso:
A frase (1) tem o verbo no singular por duas razões: por um lado, porque no sujeito não há um substantivo no plural; por outro, porque cento é do singular; e 25 lembra-nos a palavra número – também no singular. Mas o contexto e/ou a situação em que a frase for empregada pode-nos levar a fixar a atenção numa pluralidade. Neste caso, somos levados a empregar a frase (2), em que há a concordância com o sentido e não a concordância lógica.
Sim, na frase (3) o verbo fica no singular.
De facto, na frase (4), somos impelidos a pôr o verbo no plural.
Na frase (5), de facto, podemos dizer que cada um escreva como lhe parecer melhor.
A língua/linguagem não é somente para ser compreendida. É também para ser sentida. Quem a souber sentir tem em si uma grande ajuda para encontrar a correcção.
* Cf. contraponto desta controvérsia em "25% dos alunos ficaram em casa, outra vez".