Soneto - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Soneto


Rudes e breves as palavras pesam
mais do que as lajes ou a vida, tanto,
que levantar a torre do meu canto
é recriar o mundo pedra a pedra;
mina obscura e insondável, quis
acender-te o granito das estrelas
e nestes versos repetir com elas
o milagre das velhas pederneiras;
mas as pedras do fogo transformei-as
nas lousas cegas, áridas, da morte,
o dicionário que me coube em sorte
folheei-o ao rumor do sofrimento:
ó palavras de ferro, ainda sonho
dar-vos a leve têmpera do vento.

Carlos de Oliveira

Fonte
In Cantata, 1960

Sobre o autor

Carlos de Oliveira (Belém do Pará, 1921 – Lisboa, 1981) foi um escritor e poeta do neo-realismo português. Diplomado em História e Filosofia pela Universidade de Coimbra, colaborou com Vértice, Seara Nova, Altitude, Portucale ou Cadernos do Meio-Dia. Das suas obras, destacam-se: Turismo (1942); Casa na Duna (1943); Uma Abelha na Chuva (1953).