Pureza da Linguagem - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Pureza da Linguagem

Tudo que seja defender e preconizar a beleza e pureza da linguagem é um óptimo serviço feito às Letras. Não quer dizer que esse louvor, para quem o entenda em sentido mesquinho, deva fempecer a vida latejante, a poesia alada, a originalidade e a arte de cada publicista, prendendo-lhe o voo às rebuscadas do Léxico. Já Eça de Queiroz dizia a Camilo, na deliciosa carta póstuma, que Camilo não chegou a ler: "Falando de V. Exª, eu considero sempre a sua imaginação, a sua maneira de ver o mundo, o seu sentimento vivo ou confuso da realidade, o seu gosto, a sua arte de composição, a franqueza ou a força do seu traço; e, pelo menos, admiro sem reserva em V. Exª o ardente satírico, neto de Quevedo, que põe ao serviço da sua apaixonada misantropia o mais quente e mais rico sarcasmo peninsular. E os seus amigos, esses, admiram apenas em V.Exª, secamente e pecamente, o homem que em Portugal conhece mais termos do Dicionário."

É evidente que um escritor não é só um lexicólogo. A crítica moderna é larga e tolerante. Que cada um se exprima com liberdade, com individualidade, com ritmo, com beleza – mas longe da linguagem mascavada e de trapos, que dá ideia de quem ande a pedir emprestado o que tem muito seu.

Fonte

de "O Primeiro de Janeiro", Porto, 1 de Dezembro de 1921, artigo sobre o primeiro volume 

Sobre o autor

Júlio Brandão (Famalicão, 1869 – Porto, 1947) foi um escritor português. Professor e arqueólogo, foi também diretor do Museu Municipal do Porto e sócio da Academia Nacional de Belas Artes. Colaborou em diversas revistas portuenses, como A Águia. Entre 1929 e 1933, dirigiu a revista Soneto Neo-Latino. Da sua obra, destacam-se: O Livro de Aglais (1892), Mistérios da Rosa Branca (1898) e Nuvem de Oiro (1912).