Os malefícios do til - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Os malefícios do til

Esta obra é engenhosa (1). Pretender a correcção da língua portuguesa foi um assunto de que ouvi sempre rir em Portugal. Se nessa matéria se não deve seguir tudo o que este autor escreveu, muitas regras se podiam tirar da sua invenção, para detestar algumas grosserias, que com pouco gosto conservamos no idioma português, as quais com pouco trabalho, e quase sem diferença, se podiam limar. Quanto aos vocábulos que acabam em ão como torrão, trovão, ladrão, sou bem contra eles, porque não acho impressão (2) que não duvide trabalhar nas Memórias que escrevo em português, por medo destes vocábulos, os quais sendo somente usados por nós outros, não se acham nas impressões estrangeiras os o o com til por cima. Pode-se aqui imprimir em grego, alemão, holandês, italiano e francês, com muita facilidade; mas em portuguesão, "difficilem rem postulasti!…"


(1) – Refere-se ao livro de José de Macedo, "Antídoto da língua portuguesa".
(2) – Oficina tipográfica.

 

Fonte

Das "Mémoires de Portugal", vol. I, pág. 368, in "Paladinos da Linguagem", III vol., Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1922.

Sobre o autor

Francisco Xavier de Oliveira (Lisboa, 1702 – Hackney, 1783) foi um escritor português. Em 1716, foi admitido no Tribunal dos Contos do Reino e, em 1729, feito Cavaleiro da Ordem de Cristo. Em 1734, foi nomeado embaixador de Portugal em Viena. Da sua obra, considerada um dos ataques mais violentos contra a Inquisição, destacam-se: Mémoires de Portugal (1741), Opúsculos contra o Santo Ofício (1942) e Recreação Periódica (1751).