Sombra dos coros divinos;
— Milagre da naureza:
De rouca e surda rudeza
Erguida em sons cristalinos!
[...]
Alta espada de dois gumes,
Castelo das cem mil portas:
Língua viva, que resumes
— Rescaldo de ttantos lumes! —
O génio das línguas mortas...
[...]
Ai de mim! Para louvar-te,
Chovessem na minha mão
Estrelas de toda a parte;
Fosse um trovão a minha arte;
Fosse a minha alma um vulcão!
Os berços de toda a infância
Rolassem na minha voz;
E a sepulcral ressonância
Do mistério e da distância
Na campa dos meus avós.
Houvesse, nela, o marulho
De oceanos em tufão;
O Sol de olímpico orgulho;
Ou os celeiros de julho,
Contados de grão a grão.
Ouvi! — A língua é a bandeira
Da Pátria que reza e canta:
Bendito quem, — entre tanta
De altiva cor estrangeira, —
À luz do Sol a levanta!
Ó povo! Defende-a, pura
De ódio, inveja e negra ideia;
Veste-a na graça e candura
Do teu linho, — sem mistura
De falsa púrpura alheia.