Casa do Ser - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Casa do Ser

A língua é a casa do Ser.
Hölderlin e Heidegger


Língua, Casa do Ser que lá não mora,
E, se chama, não está por morador,
Que só em nós o verbo se demora
Como sombra de sol e eco de amor.

Abrigo sim, porém sem tecto, fora
De torre ou porta, os muros no interior:
Assim a Casa essente rompe à aurora
Para se incendiar com o sol-pôr.

É a noite o seu rápido alicerce,
Enquanto Casa, que não Ser (aéreo
O que nem isso é ia eu dizer

No hábito verbal que corta cerce
A hastilha do jardim da Casa, etéreo
Mensageiro de fogo. Pode ser).

 

Fonte
Poema incluído no livro Obras Completas de Vitorino Nemésio volume II - Poesia, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1989, Lisboa

Sobre o autor

Vitorino Nemésio (Praia da Vitória, 1901 – Lisboa, 1978) foi um intelectual português. Foi professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo lecionado na Bélgica e no Brasil. Em 1961, recebeu o título de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henriques e, em 1967, Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. Das suas obras, destacam-se: O Bicho Harmonioso (1938), Mau tempo no canal (1944) e Jornal do Observador (1974).