A palavra - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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A palavra


Pomo gerado entre a pedra e a abelha
do pólen do silêncio.
Um súbito desejo te desperta
luz viva em fibras de coragem.

Ardes em labaredas sobre a mesa
onde desperto te incendeio.

Forma exacta cintilas pululando
na memória. Ó ar! Ó espiga!

E passáro e flecha sobre mim revoas.
Que mão resiste? Que bosque?

Como um cão caminhas no meu rosto
e a mão segue os teus passos, verdadeira.

Em cachos perduras na memória
de todas as coisas vivas. Silenciosa.

Pétala de luz, interminável rosa
surges nos meus dedos mágica de sons.

Abre-te, flor de pedra, na doçura
deste néctar. Diligente abelha.

Zumbe, ó infinita, sobre a página.
O teu segredo é a chave do universo.

Fonte
125 Poemas (Antologia Poética)

Sobre o autor

Joaquim Pessoa (Barreiro, 1948) é um poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica. Com formação na área do marketing e da publicidade, foi diretor criativo e diretor-geral de várias agências de publicidade. Foi diretor pedagógico e professor da cadeira de Publicidade no Instituto de Marketing e Publicidade, em Lisboa, e professor no Instituto Dom Afonso III, em Loulé. Publicou mais de vinte obras de que se destacam O Livro da Noite, Vou-me embora de mim e O Pássaro no Espelho. Foi premiado pela Associação Portuguesa de Escritores e Secretaria de Estado da Cultura (Prémio de Poesia de 1981), recebendo ainda o Prémio de Literatura António Nobre e o Prémio Cidade de Almada.