Cuja enchente fecunda de expressões,
Clara te faz entre as viventes línguas,
Mais que tôdas ilustre:
Se aquele que imitando o Cisne Argivo
Tanto as latinas musas ilustrou ,
Que as fez voar eternas pelo mundo,
Vencidas quási as gregas;
Que as armas e o varão pio cantando,
Que o caro pai, que os caros seus Penates
Salvou por entre as chamas e armas hórridas
Dos férvidos Argivos;
Se o que as causas orando ante os Conscritos
Na majestosa Cúria, ou ante o povo,
No fundo lá dos peitos acendia
Mil diversas paixões ;
Cuja cópia grandíloqua e facunda
As sedições feroces profligava,
Que a Roma aparelhavam ferro e flama,
Sepultura fatal:
Ouvissem como soas doce e branda;
Tua índole grave e majestosa,
Flexível para todos os assuntos,
Atentos contemplassem:
Do mais polido seio da latina
Diriam ser nascida a lusa língua,
A mais própria de assuntos majestosos
De engenhos levantados.
Que a língua que os soberbos vencedores
D’ África, d’ Ásia e da famosa Europa,
Falavam os ilustres Lusitanos,
Gente ínclita no mundo,
Que impávidos, fendendo o mar tumente,
Sem temer as horrendas tempestades,
Novas estrelas viram, novos climas,
Novos mundos acharam,
[…]
Se um grande Barros , se um sublime e grande,
Um divino Camões cantar ouvissem,
Ou em solta oração alta e pomposa,
Ou em suave metro:
Com vivas côres de imortal transunto,
Formadas pela mão de engenho e de arte,
Veriam retratar províncias, reinos,
Vastíssimos impérios.
[…]
Adornado de extrema perfeição
Sempre ilustre serás, sempre famoso,
Sempre de sábios peitos estimado,
Puríssimo idioma.
Apesar dos maléficos profanos,
A quem as sacras musas recusaram
O dom de conhecer tuas belezas
E sólida energia,
Inda com teu favor me elevarei
Com clara fama às lúcidas estrelas,
Brando cisne cantando ao som do Tejo
Cânticos imortais.
[…]