A língua portuguesa, como língua viva, sempre se vai enriquecendo; e já é tão abundante e opulenta, que em todas as matérias tem ricos termos.
Era antigamente a língua portuguesa tão pobre, como foram todas as mais línguas nos seus princípios. Só nas folhas de alguns livros históricos ou predicativos saía singelamente à luz; mas com as obras de muitos autores teve sucessivamente tão preciosos ornatos, que não tem que envejar ás mais elegantes línguas da Europa o seu luzimento…
Á vista destes volumes (do Vocabulário Portuguez e Latino) aos quais como o tempo se poderão acrescentar outros, ¿que dirão certos estrangeiros, os quais publicaram pela Europa que a língua portuguesa é um idioma pobre, inculto, bárbaro, e casualmente formado de vários fragmentos da língua mourisca e castelhana?
Confesso que depois de ajuntar os materiais desta obra, eu mesmo fiquei admirado, e juntamente oprimido, da multidão de vocábulos que achei nos autores antigos e modernos.
Vocabulario Portuguez e Latino, in Paladinos da Linguagem, 1.º vol., Paris-Lisboa, Aillaud e Bertrand, 1921, p. 101 (manteve-se a ortografia utilizada na fonte).