A FALA - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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A FALA
Sou de uma Europa de periferia
na minha língua há o estilo manuelino
cada verso é uma outra geografia
aqui vai-se a Camões e é um destino.

Velas veleiro vento. E o que se ouvia
era sempre na fala o mar e o signo.
Gramática de sal e maresia
na minha língua há um marulhar contínuo.

Há nela o som do sul o tom da viagem.
O azul. O fogo de Santelmo e a tromba
de água. E também sol. E também sombra.

Verás na minha língua a outra margem.
Os símbolos os ritmos os sinais.
E Europa que não mais Mestre não mais.

Fonte
In Sonetos do Obscuro Quê, Lisboa, Dom Quixote, 1993

Sobre o autor

Manuel Alegre, natural de Águeda, onde nasceu em 1936, estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi dirigente estudantil. Até 2 de Maio de 1974, viveu em Paris e mais tarde em Argel, onde foi locutor da emissora Voz da Liberdade. Conhecido pela atividade política, tem-se dedicado também à produção literária, com incidência particular na poesia. Em 1999, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa.