Carlos Sousa Ferreira (cf. Ainda sobre black-out com ou sem hífen) contestou uma minha resposta, onde defendi que as letras k, w e y não pertencem ao nosso alfabeto. Vejamos:
1.a) Diz Rebelo Gonçalves no seu "Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa" que as tais vinte e três letras são «letras fundamentais». Se são fundamentais, as outras três (k, w e y) não pertencem ao fundamento da nossa grafia. Ficam, pois, à parte.
b) Diz o mesmo tratado, a respeito de tais letras, que é lícito usá-las apenas em casos particulares.»
A expressão «é lícito» significa, principalmente, «que é permitido por lei». Neste caso, a expressão «que é lícito» faz supor, parece, uma permissão à margem, isto é, fora daquilo que devia ser. Mais: se se usam em casos particulares, fazem excepção, isto é, não pertencem da ortografia. E porquê? Porque não se usam em palavras inteiramente portuguesas.
Diz mais o "Tratado" que o k, o w e o y se usam «em termos técnicos de uso internacional: hectowatt, henry», etc. Se são termos internacionais não são termos genuinamente portugueses mas de todas as línguas.
c) Também se usam «em abreviaturas e símbolos: k = potássio, Kg = quilograma», etc. As abreviaturas não são palavras.
d) Também se usam «em palavras derivadas eruditamente de nomes próprios estrangeiros que se escrevem com k, w ou y: byroniano ( de Byron, darwinismo ( de Darwin)», etc.
Estas palavras não parecem de grafia portuguesa, porque são formadas duma palavra estrangeira que, de português, apenas têm um sufixo. A vantagem de tal grafia é a seguinte: leva-nos a visualizar facilmente o nome próprio de que deriva e, portanto, a ligarmo-nos com mais facilidade ao nome próprio de que deriva e à entidade respectiva - a ligarmo-nos intelectualmente e, mesmo, afectivamente, situações estas que podem interessar para melhor compreensão.
2. Verdadeiramente não são palavras de cunho português, mas palavras estrangeiras que aproximámos das portuguesas para melhor compreensão - mas apenas aproximámos.
3. Isto é, aceita os seus próprios argumentos por não serem de autoridade. Logicamente, deve aceitar os argumentos dos outros, daqueles que não são autoridade. E como não temos, infelizmente, nenhum organismo governamental que seja autoridade, parece que devia aceitar os argumentos das várias entidades.
4. Mas não diz que esses casos especiais são palavras portuguesas.
5. Nem pretendemos seguir um caminho «glório», passe o termo, mas um caminho útil. E é útil tudo que provoca discussão. É desta que sai a luz.
6. Não pretendemos fixar a pronúncia correcta, mas apenas indicar a chamada «pronúncia normal portuguesa». Bem sabemos que tem sido estudada por diversos linguistas.
7. No que toca à pronúncia, a «diversidade de formas das diversas regiões do País» não é legítima; é mais do que isso, é «legitimíssima».
8. Já sabemos isso há muitas dezenas de anos. Mas uma coisa é, por exemplo, o regionalismo portuense /a-má-mos/, o que mais para o Sul se profere /a-mâ-mos/; outra coisa é a chamada «pronúncia normal portuguesa».
9. As respostas têm de ser as mesmas, quando ainda não se descobriram outras.
10. Não pretendemos ser inteligentes; e não somos puristas nem gramáticos. Somos apenas conselheiros daquilo que nos parece ser a melhor maneira de construir a linguagem. E V. Ex.ª, que é pessoa inteligente, de certeza que já viu isto; De resto… já errámos em coisas de Língua Portuguesa? Talvez... Não sabemos. Só sabemos o seguinte:
Só não errou quem nunca escreveu e nunca falou. E, já agora, sr. Carlos Sousa Ferreira, peço-lhe um favor: Não ataque os que trabalham para que o português não ande ainda mais mal tratado, olhe aí na comunicação social e pelo pessoal da política!