Cada vez ligo mais à cortesia, à gentileza e à amabilidade, à empatia, ao espírito gregário e à cordialidade. São qualidades diferentes, tanto mais que se podem reunir numa só pessoa.
Tivesse eu tempo poderia entreter-me a esmiuçar as diferenças. Por agora basta dizer que são o contrário da falsidade, da emissão automática de frases feitas, gastas pela repetição e esvaziadas pela insinceridade. Não se culpem as pobres criaturas que são obrigadas a declamar estes lugares-comuns comerciais, mal traduzidos de um americano já de si mal parido.
Quem tem culpa são as empresas patroas que tornam os empregados em porta-vozes, usando as cabecinhas deles e delas só para decorar e repetir as falinhas mansas que acham (estupidamente) que estimulam o dispêndio de grandes quantidades de narta.
«Em que mais o posso ajudar, senhor Cardoso?» é particularmente irritante — sobretudo quando não nos ajudaram coisíssima nenhuma. Se pedirmos que deixem de nos «ajudar» em troca de um pouco de compreensão humana estamos a pôr em risco o emprego deles, já de si precários, mal pagos e entediantes.
Será impressão minha que no Porto usam menos estas malfadadas expressões? É que aqui dou comigo a ter conversas a torto e direito em que cada ser humano escolhe o que vai dizer, atendendo ao que disse o outro ser com que está a falar. Só recorrem às frases feitas — e fazem muito bem — quando estala o verniz e o cliente abusa da sinceridade do empregado.
De qualquer modo, estão muito mais avançados do que nós. Será que não podemos aprender com eles?
Crónica originalmente divulgada no jornal Público, de 16 de novembro e aqui transcrita com a devida vénia.