É arbitrário o género a atribuir a siglas e acrónimos? Não, não é, como explica Edno Pimentel em mais uma crónica à volta dos usos do português de Angola. Texto publicado no semanário luandense Nova Gazeta no dia 8/10/2015, no qual se mantém a ortografia conforme a norma ainda aplicada em Angola, anterior ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
É isso que o estudante dessa escola – Enad – deveria saber, que «o seu futuro«, como sugere o próprio lema da instituição, «começa aqui». Mas não precisava de ser aluno da escola em referência. Podia ser de uma outra qualquer, mas que tivesse algum cuidado, algum rigor e preocupação com o que os alunos levam para a vida. O próprio estudante também deve ter a curiosidade de "bisbilhotar" o que lhe é transmitido. Tem de desfazer em miúdos o conhecimento. Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha.
Se desfizermos o acrónimo Enad, teremos Escola Nacional de Administração, em que o núcleo – o elemento de maior importância do ponto de vista de significado, quando o conjunto é composto por mais de uma palavra. É à volta do núcleo do sujeito, por exemplo, que giram as outras palavras com as quais concorda e se relaciona.
No conjunto «Escola Nacional de Administração» o núcleo é, sem dúvidas, a palavra escola. O que vem a seguir serve apenas para complementá-la, determiná-la, especificá-la. Onde estudas? Na escola. Em que escola? Na Escola Nacional de Administração, ou simplesmente «na Enad». Dizer «estudo no Enad» é o mesmo que «estudo no escola», e não é isso que pretendemos, acredito.
O mesmo ocorre com as siglas, que são uma sequência formada pelas letras iniciais de palavras que constituem a expressão. «Tenho um amigo que trabalha numa ONG» (numa Organização Não-Governamental). Deve-se dizer que o partido no poder em Angola é o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), porque o núcleo do conjunto é uma palavra masculina – o Movimento. Situação semelhante acontece com o acrónimo (palavra formada a partir de uma combinação de letras ou sílabas de um grupo de palavras, e que não se pronuncia letra a letra, mas sim como uma palavra só) resultante de União Nacional para a Independência Total de Angola. «A UNITA é o maior partido da oposição.» Em UNITA, o elemento mais importante é União, que deve ser antecedido de um artigo (ou determinantes) do mesmo género, neste caso, por exemplo, o artigo a.
Agora estou a estudar na Enad, mas tão logo termine a formação em Gestão, estudarei Administração no Ifal, isto é, no Instituto de Formação da Administração Local.
Da mesma forma devemos proceder, por exemplo, com o jornal Nova Gazeta. Vi um anúncio no Nova Gazeta, e não "na" Nova Gazeta, porque o núcleo do conjunto, embora esteja oculto, é masculino – «o jornal» (Nova Gazeta).
Crónica da autoria de Edno Pimentel e publicada na coluna "Professor Ferrão" do jornal luandense Nova Gazeta, em 8/10/2015. Manteve-se a ortografia conforme a norma ainda aplicada em Angola, a qual é anterior ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.