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Pelourinho

«Concorda-se com alguém» ou «discorda-se de alguém»

«Há coisas com as quais eu concordo e outras com as quais eu discordo.»; «Os jornais, hoje, têm menos espaço para artigos, para as reportagens e para as notícias. As reformulações gráficas que se fazem actualmente vão todas no sentido de subtrair espaço para as notícias.»1
     «Concorda-se com alguém» ou «discorda-se de alguém». O verbo discordar exige a preposição de: «Discordo de ti», «ele discordou do que eu disse”. Rigorosamente, «discorda-se» de pessoas, de posições, de ideias, de decisões, e não de «coisas», mas, aceitando-se que o termo «coisas» aqui pode ter o sentido de «opções», «tomadas de decisão», a primeira frase acima transcrita deveria ter terminado deste modo: «Há coisas das quais eu discordo».
     Na segunda frase, pretendia dizer-se que «as reformulações gráficas (…) vão no sentido de subtrair espaço às notícias». Tira-se espaço às notícias para esse espaço ser ocupado por algo que não são notícias. Neste contexto, o verbo subtrair pede um complemento directo e um preposicional introduzido pela preposição a: «Ele subtraiu o réu à acção da justiça», «ele subtraiu objectos ao seu patrão», «ele subtraiu-o a essa responsabilidade», etc.

     1 Felisbela Lopes, “Clube de Jornalistas“, RTP-1, 24 de Maio p.p.

     texto saído no jornal português "24horas", do dia 26 de Maio de 2006, na coluna "Ai, esta Língua... traiçoeira"

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