Um problema do telemóvel rapidamente solucionado logo que ficou claro que tecla era aquela que faltava pressionar. Crónica do autor publicado no semanário luandense Nova Gazeta, do dia 17 de julho de 2014, à volta dos usos do português em Angola.
«Passe a publicidade», como ouvi variadíssimas vezes em estações de rádio, quando se quer situar num dado contexto e falar da empresa A ou B, principalmente se esta não é cliente da casa. Mas vou falar, não da marca do meu pobre telemóvel, Samsung Galaxy S4, que eu achava ser um dos mais sofisticados do planeta, mas, sim, da assistente de uma das operadoras telefónicas.
Segundo a assistente, a sua operadora não tinha qualquer culpa. O problema estava no meu aparelho (de alguma geração que desconheço), porque não conseguia, mais uma vez, carregar o saldo.
Inseri o 19102 mais de cinco vezes, revi o cartão, pedi ajuda a um amigo, mas o saldo não carregava. Tentei pelo *102# seguido do código de recarga, durante o dia todo, mas sem hipótese. Nada!
Pela enésima vez, liguei para o apoio ao cliente e o moço, do outro lado da linha, entra numa sessão de perguntas e mais preocupado em impressionar-me com a sua língua enrolada do que resolver o meu problema:
«Desculpa, senhor. Já fez isso…?», «Já fez aquilo?», «Fez assim ou assim?», «E desta forma, também já tentou?», «Se se dirigisse a uma das nossas agências, o senhor já teria, provavelmente, o seu problema resolvido…»
Já tinha feito tudo e mais alguma coisa, passe o exagero, mas parecia que só a própria Samsung tinha a solução do meu problema.
«Desculpe, senhor. Acho que já encontrei a solução para o seu problema», disse o jovem. «Por favor, meu senhor. Pressione a tecla ‘asterístico’. Está? Já pressionou asterístico?».
Não. Não pressionei, porque o meu telefone não tem esta tecla, ‘asterístico’ cujo símbolo é ‘*’.
O nome correcto do símbolo é ‘asterisco’ (do grego asterískos, e entra na nossa língua pelo latim asteriscu.). É uma palavra grave, ou paroxítona, (com acento tónico em –ris) constituída por quatro sílabas (as-te-ris-co), e não ‘as-te-rís-ti-co’, pronunciada como uma palavra esdrúxula, ou proparoxítona, de cinco sílabas como se tem pronunciado.
Pressionei o asterisco e segui as demais instruções. O meu problema foi resolvido logo a seguir.
texto publicado no semanário luandense Nova Gazeta, no dia 17 de julho de 2014, na coluna do autor, Professor Ferrão. Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola.