De como, ironicamente, a palavra ciência talvez seja a causa do erro de acrescentar um "i" desnecessário em beneficência – a crónica de Edno Pimentel na coluna "Professor Ferrão" do semanário angolano Nova Gazeta.
Fazem muito bem. São poucas as pessoas que se querem dedicar a causas nobres, até mesmo aqueles pequenos gestos que fazem toda a diferença. Ajudar os mais novos a atravessar uma rua, ceder o lugar a um idoso ou a uma mulher grávida, para não falar que é muito mais difícil participarem em actividades de solidariedade.
«Por isso é que nós criámos esta associação de beneficiência, que realiza vários espetáculos para angariar alguns bens e doá-los a instituições de caridade”, explica um activista social que se mostrou muito preocupado com “o número de crianças a pedir esmolas nas ruas, muitas delas ao lado dos seus pais”.
Para aquelas jovens, é «bom» que, de algum modo, se ajudem as pessoas a ter uma vida «digna». «Muitas dessas crianças perderam os pais à nascência», fogem da casa dos familiares porque são «maltratadas», ou acusadas de «bruxaria» e são, mais tarde, «marginalizadas».
O grupo de jovens, que é maioritariamente composto por estudantes do ensino médio, está entusiasmado e quer reunir muitos outros para essa causa solidária. Recentemente, por exemplo, conseguiu juntar vários alimentos não perecíveis e roupas usadas ainda em boas condições para dar a um lar de terceira idade. Querem fazer mais, mas não podem.
Também partilho da ideia de que não é fácil criar projectos para acções de filantropia. O que se passa é que, por distracção, não prestamos a atenção devida às coisas, daí que nos esquecemos de fazer gestos importantes, mesmo quando estes se resumem em dizer apenas a palavra certa – beneficência – no momento certo. Quem sabe assim se consegue cativar mais pessoas a causas nobres.
Deve ser por influência do vocábulo ciência, que quando se junta a outros, resulta em palavras como biociência, neurociência, que, muitas vezes, se acrescenta, incorrectamente,o "i" em "beneficiência" e se chega a alterar a palavra nascença para "nascência".
Apesar de terem terminações parecidas no latim (beneficentĭa, differentĭa, nascentĭa, etc.), e de os seus adjectivos terminarem em -ente (beneficência – beneficente; diferença – diferente; nascença – nascente), cada uma delas adquiriu forma própria.
Esta associação dos estudantes solidários é de beneficência. Eles pedem que mais jovens se juntem a causas beneficentes.
In jornal Nova Gazeta, de Luanda, publicado em 10 de outubro de 2013 na coluna do autor, Professor Ferrão. Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola