O jornal "Público" passou a distribuir nas suas edições de domingo uma revista dirigida (melhor: "direccionada", como agora se julga ser de bom tom preferir ao comezinho verbo dirigir, e lá vem assim no respectivo folheto autopromocional…) "para jovens de ambos os sexos, dos 7 aos 13 anos". É uma revista – promete-lhes quem a faz 1 e a divulga – que, além "de não se perde[r] em inutilidades", "só tem coisas que verdadeiramente interessam". Omitidas as primeiras, já o mesmo não acontece no vasto rol do enunciado das segundas: "Como reagir a uma borbulha? Que truques para sair vencedor nos meus jogos? Como ter boas notas e não passar por totó? E a atitude? E assuntos para conversar? E receitas horríveis [sic] que eu e os meus amigos podemos cozinhar para comer e repetir [sic, sic]?" E, imagine-se!, eles até prometem "educar" os pais dos seus desejados leitores (repete-se: "jovens de ambos os sexos, dos 7 aos 13 anos"). Com tantos intuitos pedagógicos e a apregoada "experiência na escrita e desenho infanto-juvenil"2, só não se percebe o despropósito da letra K3, no nome engendrado para a dita revista: "Kulto".
1Estado de Sítio é a empresa que produz esta revista, distribuída depois com o "Público", ao domigo.
2 Sem nomes, é assim a apresentação de quem faz a revista: "A KULTO [ora escrevem em maiúsculas, ora só na incial…] tem um corpo redactorial e de ilustradores próprio, composto por profissionais criativos com experiência comprovada na escrita e desenho infanto-juvenil e interesses partilhados com os seus leitores".
3 Krash, Radikal, Cenas Kool, Gadgets são outras tantas variações da letra K de uma revista que, assim, dificilmente levará quem quer que seja dos seus jovens leitores a "ter boas notas e [a] não passar por totó". Pelo menos em Português.
Cf. O anómalo Kinas e o desnecessário "newsletter"