Basta um olhar atento pelos jornais ou pelas legendas do cinema e da televisão, em Portugal, para nos apercebermos de como este modismo proliferou neste lado do Atlântico.
Trata-se de frases começadas pelo advérbio interrogativo porque que, cada vez com mais frequência, aparece separado, como se se tratasse da preposição por e do interrogativo que. Esta é mais uma diferença entre o português do Brasil e o de Portugal, e, como tal, tem de ser respeitada. São normas ortográficas. Os brasileiros têm umas, os portugueses outras…
Em português de Portugal, iniciamos as interrogativas com porque (tudo pegado): «Porque decidiu deixar o Sporting?», «Porque terei eu de decidir?», «Porque quis sair da polícia?»
Mas são muitos os exemplos do emprego indevido de por que em vez de porque:
•« Por que terei eu de decidir? (…)» [" Público", 18/11/2009]
•«Por que quis sair da polícia?» [revista "Pública", do "Público", 15/11/2009]
•« Por que me apresentaste como teu amigo, e não como teu irmão?» [legenda do filme " Tetro", de Francis Ford Coppola]
•« Por que será?» [ibidem]
A separação é legítima quando o que antecede um nome e pode ser substituído pelas formas qual e quais («Por que razão decidiu deixar o Sporting?», «Por que motivos quis sair da polícia?»), como aqui já se explicou variadíssimas vezes. Por exemplo, nesta resposta.
O rigor linguístico tem de ser apanágio daqueles que, no dia-a-dia, são responsáveis pelo bom uso desta ferramenta também chamada língua mãe…