Dignitário, para quem queira pensar duas vezes, diz-se das pessoas com dignidade (isto é, com posição, consideração, elevação, mérito, estima, etc.) política, social ou qualquer outra. Quem estudou português (ou a isso é obrigado por razões profissionais, caso de um jornalista e locutor) sabe que vem do latim dignitas, numa adaptação directa do francês dignitaire. Qualquer dicionário ensina isto.
E se ele, o tal jornalista-locutor, disser "dignatário" – como disse mais de uma vez o apresentador do Jornal da Noite do canal português SIC, de sábado, a propósito dos VIP presentes no funeral da Madre Teresa de Calcutá –, está só a dar um péssimo exemplo dos seus conhecimentos numa disciplina nuclear (devia ser...) da profissão. O pior é que não é só incompetência.
Porque há responsabilidades acrescidas quando se fala para milhões de telespectadores. Seja quando se reproduz um (por sinal) muito comum erro de português – no caso do "dignatário", trata-se antes de um barbarismo, resultante do chamado fenómeno de dissimilação –, seja por via de qualquer outro disparate.
Por exemplo: confundir sistematicamente a capital de El Salvador, S. Salvador, na América Central, com a capital do estado brasileiro da Bahia, que se chama, apenas e tão-só, Salvador... Salvador da Baía1, da baía de Todos os Santos, desde a sua fundação, em 1549, por Tomé de Sousa.
Pois na TSF, uma estação de rádio-notícias de Lisboa, foi todo o dia a tropeçarem numa tal "S.Salvador" da Baía, que era a última cidade visitada pelo Presidente português, Jorge Sampaio, no Brasil. Como era (santo) domingo, só se por isso...
1A cidade de São Salvador da Baía, no português europeu, sem h e com acento gráfico no i, desde Rebelo Gonçalves, grafia que se encontra registada no VOLP, da Porto Editora, 2009. No Brasil, a tradição mantém o h em Bahia (o estado), topónimo que ocorre com frequência com o nome da respetiva capital: Salvador da Bahia.