A maior desgraça da língua portuguesa é ter mais do que uma ortografia, disse à Lusa o professor Fernando Cristóvão, autor do livro Da Lusitanidade à Lusofonia, lançado [no dia 25 de Julho p.p.] em Lisboa.
«Fazemos parte de uma comunidade em que tudo deve ser comum, a começar pela língua. Só que nenhuma língua tem duas ortografias e só a nossa tem essa desgraça», sustentou Fernando Cristóvão, professor jubilado da Faculdade de Letras de Lisboa.
Na obra ontem lançada, numa edição da Almedina, Fernando Cristóvão reflecte sobre o ensino, difusão e património da língua portuguesa, apresentando ensaios e conferências proferidas em Lisboa, Recife (Brasil), Paris, Mérida (Espanha), Japão, China e Índia, entre 1983 e 2007.
«É também uma reflexão acerca da nação portuguesa, da nacionalidade, da língua portuguesa e da expansão da língua portuguesa», salientou.
Fernando Cristóvão, que presidiu ao antigo Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (ICALP), antecessor do Instituto Camões, defende que a língua portuguesa «não é património de Portugal».
«Ela pertence a todos os lusófonos. Nós, os portugueses, não somos donos da língua, somos condóminos, com mais sete (países), de uma língua que é comum, embora respeitando as variedades», acrescentou.
Para Fernando Cristóvão «as variedades da língua portuguesa não prejudicam a unidade", a qual, considerou, «é feita num patamar superior».
Defensor do acordo ortográfico, Fernando Cristóvão recordou ter sido um dos subscritores do documento no Rio de Janeiro, e disse «lamentar muito a ignorância, e às vezes um bocadinho de má-fé que andou por aí a confundir ortografia com língua».
Paralelamente ao lançamento do livro, na Fundação Cidade de Lisboa, será feita a apresentação pública dos estatutos do Observatório da Língua Portuguesa.
In Notícias, 26 de Junho de 2008