O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação português, João Gomes Cravinho deu uma extensa entrevista ao jornal "Público” (de 17 de Maio p.p.), onde passa em revista as grandes opções da política externa de Portugal.
No que se refere à política cultural externa e mais especificamente ao posicionamento da Língua Portuguesa no mundo, duas ideias centrais decorrem do seu discurso e, quanto a nós, de primordial importância: o interesse da Língua Portuguesa em África e a necessidade de Portugal conjugar esforços com o Brasil para a afirmação internacional do português. Citemo-lo:
«Temos de ter plena consciência de que a expansão da língua portuguesa passa mais por aí [refere-se a África] do que pela Europa. Não por Oxford nem por outros sítios, mas por um conjunto de países limítrofes de outros de língua portuguesa, como o Gabão, próximo de S. Tomé e Príncipe ou o Senegal junto à Guiné-Bissau (...)»
Embora esta ideia seja discutível, é, contudo, evidente a relevância da Língua Portuguesa no espaço africano e essencialmente na geografia dos PALOP. A ingovernabilidade de alguns países africanos assenta na debilidade das suas identidades nacionais e aqui a assimilação da língua oficial é elemento decisivo de agregação. Isto é evidente nalguns PALOP. Resta agora saber se as instituições portuguesas, especialmente vocacionadas para a difusão e promoção da língua e cultura portuguesas no estrangeiro, estarão a cumprir o seu papel...
Sobre o Brasil, afirmou João Gomes Cravinho: «Temos de ser realistas em relação ao futuro da língua portuguesa. O futuro da língua portuguesa no mundo tem a ver com cada um dos países que falam português, e com as regiões nas quais os países estão inseridos. O Brasil aí é um gigante. Se o Brasil se empenhar a fundo na promoção da língua portuguesa só nos pode deixar satisfeitos».
Nada mais correcto. Efectivamente, o futuro da Língua Portuguesa depende muito da pujança do Brasil. Existem factores extralinguísticos condicionantes da vitalidade das línguas. Uma língua é tanto mais importante a nível internacional quanto mais relações económicas veicular, ciência produzir, arte e cultura criar. O Brasil com os seus cento e oitenta milhões de falantes será determinante nessa afirmação do idioma de Camões.
Uma nota final para afirmar que, actualmente, perspectiva-se na cultura política brasileira a importância que a Língua Portuguesa possa vir a ter na afirmação do Brasil como grande potência mundial. Dois dados importantes.
Primero: o Governo brasileiro definiu como prioridade da sua política externa a entrada do país como membro permanente do Conselho de Segurança. Dois países latino-americanos manifestaram-se contra, a Argentina e o México. Uma pergunta: que geografia linguística poderá apoiar sem reservas esta legítima pretensão brasileira?
Segundo dado: com a estabilidade política de Angola e Moçambique, assiste-se a um aprofundamento das relações entre o Brasil e estes países da CPLP. A própria CPLP começa a ter hoje um potencial por causa deste interesse brasileiro, e à afirmação da CPLP corresponderá uma afirmação da Língua Portuguesa.