«A aranha arranha a jarra, a jarra arranha a aranha; nem a aranha arranha a jarra nem a jarra arranha a aranha.»
«O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo, que o tempo tem tanto tempo, quanto tempo o tempo tem.»
Trava-língua (enrola língua ou parlenda) é um pequeno texto, rimado ou não, de pronunciação difícil, que pode provocar hiatos, paráquemas ou cacófatos.
Pois o velho trava-língua está a deixar de ser apenas brincadeira de crianças, exercício de dicção teatral ou lição contra a gagueira para ser matéria adoptada em várias estâncias no capítulo da auto-estima. Pessoas que querem perder o medo de se expor, de errar, que têm acanhamento, timidez e vergonha de se comunicar estão aprendendo a se soltar com a utilização de trava-línguas. É fundamental para o desbloqueio da expressão, para ajudar os interessados em soltar a língua e aprender a falar bem nas relações pessoais e nas profissionais.
Saindo do universo infantil, o trava-língua passou a ser usado no teatro e na expressão corporal, e logo se percebeu que era uma arma utilíssima para contornar dificuldades em se expressar. Porque, quando a pessoa se solta, a linguagem começa a fluir naturalmente. Hoje, a velha brincadeira infantil merece ser estudada no campo de Linguística e da Semiologia, e já é encarada como uma nova cadeira: a Linguistoterapia.
Tudo indica que Amadeu Amaral e Alcides Bezerra foram os autores do termo trava-língua. É também conhecido como parlenda. Serve como obstáculo ou problema para desenferrujar a língua, porque quando dita pelas pessoas com rapidez enrola a língua de quem a está pronunciando.
Muitos trava-línguas, quando pronunciados ou cantados de maneira rápida, resultam em cacofonia (sons desagradáveis ou palavras obscenas, resultantes da união das sílabas finais de uma palavra com as iniciais da seguinte). É um recurso muito utilizado por repentistas para derrotar o adversário em pelejas. Podem aparecer também em forma de quadra: ficou famoso o desafio entre os cantadores Zé Pretinho e o Cego Aderaldo. Este último improvisou um trava-língua que deixou o adversário totalmente atordoado, sem poder repetir o mote, que era «quem comprar a paca cara / paca cara pagará. / Pagará cara a paca / quem comprar a paca cara...»
Jararaca e Ratinho, famosa dupla do tempo de ouro da rádio, deixaram registada essa parlenda:
«Um sapo dentro do saco
O saco com o sapo dentro
O sapo batendo o papo
E o papo cheio de vento.»
Há outras:
«Num ninho de mafagafos
Seis mafagafinhos há;
Quem os desmafagafizar,
Bom desmafagafizador será.»
E mais:
«Lá vem o velho Félix
Com um fole velho nas costas
Tanto fede o velho Félix
Como o fole do velho Félix fede.»
Para terminar: Futre não é um biltre. Futre é um craque.