No título de uma chamada da edição electrónica do Jornal de Notícias de 7 de Março de 2008 afirmava-se com todas as letras: «Cliente foi várias vezes esfaqueado mortalmente por proprietário de loja.» Imagina-se o cliente a levar uma facada, morrer e depois ressuscitar para levar outra mortal e assim sucessivamente.
Títulos destes acontecem, por vezes, com a pressão do fecho ou do excesso de trabalho. Mas podem ser evitados com um melhor domínio da língua e das técnicas jornalísticas. Percebe-se o que o autor quis dizer, mas a verdade é que aquilo que está escrito é outra coisa.
O título assassino estabelece a confusão, porque a frase está na voz passiva, o verbo está no passado e pelo meio imiscui-se um advérbio de modo.
Os títulos devem estar na voz activa e, quando possível, no tempo presente. Não se deve escrever «um cliente foi esfaqueado pelo proprietário de uma loja», mas sim «proprietário de loja esfaqueia cliente». A partir daqui há diversas opções, cuja escolha depende dos critérios jornalísticos aplicados e do estilo pessoal.
Seria possível titular, por exemplo, «Proprietário de loja mata cliente à facada» e dizer a mesma coisa que o título em causa quer dizer. A forma «matar à facada» deixa implícito que foi mais do que uma facada.
Pessoalmente, teria titulado assim: «Lojista mata cliente à facada.» Não é necessário dizer em título que o lojista é o proprietário da loja. Tanto mais, que essa conotação existe na cabeça da maior parte dos leitores.