Acabam de ser publicadas, em Lisboa, as Actas da conferência A Língua Portuguesa: Presente e Futuro, organizada em Dezembro pela Fundação Calouste Gulbenkian, entre cujas conclusões se propunha a criação do Observatório da Língua Portuguesa. O tempo entretanto decorrido é, obviamente, demasiado curto, ainda, para que se preveja, já, o... costume. E sendo o costume, entre nós, o que se passou, por exemplo – e infelizmente –, com esse nado morto chamado Instituto da Língua Portuguesa, vem a propósito lembrar o mais recente exemplo (do) espanhol.
Criada em Fevereiro, em Madrid, a Fundação do Espanhol Urgente (Fundéu) – envolvendo, entre outras entidades, a Real Academia Espanhola, o Instituto Cervantes, a rádio e a televisão públicas de Espanha (RTVE), a agência nacional de notícias Efe e um banco privado, patrocinador da iniciativa, o BBVA –, constituiu-se como «unidade de intervenção rápida» na defesa, promoção e unidade da língua oficial de Espanha e da América Latina de influência hispânica.
«O idioma – escrevia na altura jornalista espanhol Miguel Lorenci – é o principal activo da nossa cultura e salvaguardar a sua unidade e o seu uso correcto é garantia de futuro e a melhor contribuição para o prestígio da nossa língua no mundo.»
Noutra passagem, citando os dois principais impulsionadores da Fundação Espanhol Urgente:
«A língua espanhola é um dos poucos idiomas capazes de resistir ao cerco do inglês e com um futuro esplêndido. É, por isso, imprescindível protegê-lo, evitar que se deteriore e se fragmente.» [Francisco González, presidente do BBVA, mecenas da Fundéu]
«Os “media” têm uma grande responsabilidade no uso do idioma. Não temos um martelo para dar na cabeça dos jornalistas que dão erros. Aspiramos ser uma base de consulta e um mecanismo de intervenção rápida cujo objectivo é manter a unidade do idioma.» [Alex Gujelmo, presidente da Efe, dinamizadora da iniciativa]
Congregando vários académicos, filólogos, linguistas e jornalistas espanhóis, a Fundéu orienta-se especialmente para os diversos meios de comunicação social em língua espanhola, com recomendações e pareceres sobre tecnicismos, barbarismos, erros a evitar e outras palavras (nomeadamente por via do inglês) «que contribuem para dificultar a comunicação dos hispanofalantes».
No «decálogo das intenções» da Fundéu consta ainda, proximamente, a criação de uma página na Internet, assim como a elaboração de um boletim mensal e de um anuário com a recolha dos principais erros linguísticos cometidos nos "media" em geral, em língua espanhola. E haverá, ainda, a edição regular de livros especializados, além da realização periódica de congressos, seminários e de todo o tipo de reuniões sobre questões relacionadas com o idioma espanhol nos meios de informação.
Em suma, uma réplica do Ciberdúvidas – em Língua Espanhola, e com outra dimensão e os apoios que este nosso, da nossa Língua Portuguesa, nunca alcançou...
Cf. A Língua Portuguesa e o triângulo Portugal-Brasil-PALOP