No contexto da globalização, o português também se afirma como exportador de palavras: fado, samba, saudade já são conhecidas dos dicionários de língua inglesa. E o Brasil conseguiu, entretanto, insinuar em domínios anglo-saxónicos o seu jeitinho («maneira hábil, esperta, astuciosa de conseguir algo, esp. algo que à maioria das pessoas se afigura como particularmente difícil; jeitinho brasileiro», Dicionário Houaiss). Mas cedo se juntou um (quase) equivalente luso – desenrascanço, derivado de desenrascar –, sonoramente bárbaro e presença recorrente em páginas eletrónicas que inventariam as palavras que faltam ao inglês para se tornar uma verdadeira língua global. O jornal digital português Observador assinala o facto, em notícia sobre uma nova recolha, intitulada 28 belas palavras que a língua inglesa deveria roubar. Também no Diário de Notícias, essa inclusão foi tema de uma crónica do jornalista Ferreira Fernandes, aludindo à crise que se arrasta em Portugal: «O vocábulo português que está na lista, desenrascanço (lugar 14), ilustra bem quanto o negócio vai ser favorável à América, Reino Unido e a toda Commonwealth. Sim [nós, portugueses], somos exímios no desenrascar. Mas para chegarmos ao apuro de deixar as coisas por fazer até ao último minuto e, num repente, encontrar uma solução satisfatória, saiu-nos do pelo. E eles vão tê-lo de graça.»
A verdade é que a importação de palavras inglesas é imparável, e um novo anglicismo entra em cena: overhang, ou seja, «uma nuvem negra que pende (hang) sobre (over) a recuperação económica não só em Portugal mas, também, em boa parte da zona euro» (de um artigo do Observador).
No consultório, igualmente a propósito de anglicismos, descodifica-se a expressão «frame story» e pergunta-se: uma pessoa é cultivada, ou culta? O verbo tomar tem complemento oblíquo? Retificar e ratificar são sinónimos?
E que se faz em prol do português como língua científica? Há várias iniciativas, entre elas, o Thesaurus de Acervos Científicos em Língua Portuguesa, projeto pioneiro dinamizado por uma rede de doze museus de ciência de Portugal e do Brasil com o objetivo de produzir um instrumento de controlo e normalização terminológica para todos os museus da esfera lusófona. A coordenação cabe ao Museu de Ciência da Universidade de Lisboa e ao Museu de Astronomia e Ciências Afins do Rio de Janeiro, com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (Portugal) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Brasil).
A Ciberescola da Língua Portuguesa e os Cibercursos têm materiais didáticos para a disciplina de Português (como língua materna e língua não materna), além de organizarem cursos para alunos estrangeiros (Portuguese as a Foreign Language). Informações no Facebook e na rubrica Ensino.