Não há consenso sobre o significado preciso da expressão popular «pagar o pato» e, tão-pouco, quanto à sua real origem – tantas e tão diferentes são as explicações encontradas nas fontes consultadas, portuguesas ou brasileiras.
Significado:
• «1) Sofrer as consequências de actos praticados por outra pessoa; 2) Pagar as despesas feitas por outra pessoa» [Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas, de António Nogueira Santos, Edições João Sá da Costa, Lisboa].
• «Ser vítima, sofrer as consequências» [Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, de Guilherme Augusto Simões, ed. Perspectivas e Realidades, Lisboa].
• «O mesmo que que pagar as favas (= pagar o outrem fez)» [Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando Neves, Notícias Editorial, Lisboa].
• «(...) Levar a culpa de mau feitio. Nota: A palavra pato nesta locução, segundo João Ribeiro (Frases Freitas – I – 92 1), não é o mesmo que pacto, acordo, mas tem sentido eufêmico. Eis como no-lo explica o grande pesquisador brasileiro: “Pagar o pato, e não o pacto, porque quem o paga não entrou em ajuste e é sempre ludibriado e às vezes com afronta grave. (...)» [Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, 6.º Volume, de Francisco da Silveira Bueno, Edição Saraiva, São Paulo (1966)].
• «Ser responsabilizado por algo que não cometeu, sofrer consequência de algo que não causou. Exemplo: "Sua prima que pagou o pato e ficou com fama de fofoqueira"» [Dicionário de Expressões, Brasil].
• «Significa fazer o papel de tolo, pagando por aquilo que não deve (...)» [Dicionário de Gírias, Brasil].
• «Significa fazer o papel de tolo, pagar para que os outros aproveitem, arcar com as responsabilidades de despesa alheias, ser ludibriado e, às vezes, com afronta grave. (...)» [Dicionário de Provérbios e Curiosidades, R. Magalhães Júnior, Editora Cultrix, São Paulo].
• «Correr com as despesas. O espanhol tem a expressão “pagar el pato de la boda”. (...)» [Tesouro da Fraseologia Brasileira, de Antenor Nascentes, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro].
Origem:
• «(...) A expressão [pagar o pato] é proveniente de um jogo que era praticado em Portugal. Nesse jogo, os participantes, a cavalo, deveriam arrancar com um só golpe um pato amarrado a um porto. Quem perdia tinha de pagar pelo pato, e dessa forma essa expressão foi transposta para o dia-a-dia, para caracterizar algo que se paga e não obtém qualquer benefício» [Dicionário de Gírias, Brasil].
• «A origem da expressão popular “pagar o pato” deu-se por um antigo jogo, realizado nas cidades portuguesas. O jogo consistia em amarrar uma ave – geralmente um pato – num mastro, a qual deveria ser retirada do objeto – pelos jogadores – numa única tentativa. Os jogadores cavalgavam em direção ao mastro e, com um instrumento, tentavam cortar o que quer que amarrava a ave. O indivíduo que não alcançasse o objetivo deveria pagar – monetariamente – pelo animal sacrificado. Daí a expressão: “Pagar o pato”, ou seja, pagar por aquilo que não deve; assumir responsabilidade por ações realizadas por um grupo» [Expressões Populares, São Paulo].
• «Autores renascentistas portugueses, como Sá de Miranda, já usavam a expressão, em seus versos, como demonstra João Ribeiro1. O autor das Frases Feitas resume, a propósito, um conto licencioso escrito em latim pelo autor florentino Giovanni Francesco Poggio Bracciolini, segundo o qual uma mulher concordara em adquirir, a um vendedor de patos, uma dessas aves, mediante a condição que ele estabelecera: a de conceder-lhe os seus favores. Cumprida a condição, teria aparecido o marido, reclamando o vendedor cinicamente o preço do pato e dizendo que ainda não estava pago. O marido acede em pagar o pato em dinheiro, dizendo que abreviava a disputa para não atrasar a ceia. João Ribeiro afirma com razão que esse conto florentino basta à explicação autêntica do ditado» [Dicionário de Provérbios e Curiosidades, R. Magalhães Júnior, Editora Cultrix, São Paulo].
• «Teobaldo [pseudónimo de Francisco Mendes de Paiva, que em 1879 publicou o livro Provérbios Históricos e Locuções Populares, pág. 74] conta a seguinte anedota: Três rapazes mandaram preparar um pato numa hospedaria e, quando chegou a ocasião de pagar, desfizeram-se em atenções, porfiando cada qual em não consentir que os outros pagassem. Quem pagou o pato afinal foi o caixeiro da casa, o qual dele não havia comido. A expressão espanhola ["pagar el pato de la boda"] mostra que esta explicação não é verdadeira, pois não fala em boda alguma. [Joan] Coromines [in Diccionario Crítico Etimológico Castellano e Hispánico, s. v. apatusco] vê em pato uma forma vulgar de pacto» [Tesouro da Fraseologia Brasileira, de Antenor Nascentes, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro].
1 Frases Feitas – Estudo Conjetural de Locuções, provérbios, etc. 2 vols. Rio de Janeiro (1908-1909). Autor: o jornalista, crítico literário, filólogo, historiador, pintor, tradutor e académico brasileiro João Ribeiro.
[Manteve-se a grafia da época das transcrições acima registadas.]