DÚVIDAS

Origem de palavras no Português

Sou brasileira e moro no interior do estado do Espírito Santo. Estudo Letras/Português na Universidade Federal do meu estado e estou com dificuldades.

Gostaria de saber se é possível me ajudar ou indicar onde posso conseguir como se deram as transformações do Latim Clássico via Latim vulgar até o Português das seguintes palavras:

  • Mosca – musca, ae
  • Mosquito - culcx, icio, m
  • Vício - vitium, I
  • Grito – clamor, oris, m
  • Esfinge- sphinx, sphingis, f
  • Lebre – lepus, oris, f
  • Brincar, ludo, is, ere, lusi, lusum
  • Nós domávamos, damo, as, are
  • Distinguir – distinguo, is, ere, inxi, inctum
  • Potável – potabilis, e
  • O mais infeliz - infelix (icis)

Agradeço qualquer ajuda. Nossa biblioteca infelizmente dispõe de poucos livros nessa área.

Resposta

Em mosca o o representa a evolução do u tónico breve (deu ô). Mosquito é derivado de mosca já em português. Em vício, apesar de o i tónico provir de i breve latino, manteve-se este por eruditismo (a palavra vezo, com ê, é que representa a evolução normal, popular, do étimo). Grito não vem de clamor (como é evidente!) mas é derivado regressivo de gritar, que representa o latim quiritare. Esfinge representa perfeitamente o seu étimo. Em lebre, o p intervocálico passou normalmente a b e o o do acusativo lepore(m) caiu depois por a palavra ser esdrúxula. Brincar não tem nada com ludere; parece ter vindo do germânico blinkan "gracejar". Domar vem do latim domare (com o!). Distinguir procede de distinguere, palavra esdrúxula no latim clássico, que passou a grave e mudou de conjugação (-ere deu -ire) no vulgar. Em potável, palavra semierudita (porque manteve o t intervocálico, em vez de o sonorizar em d), o b deu v, o que é normal na evolução do sufixo -bilis, cujo i breve e átono (o que está depois do b) deu e aberto, por causa do l, que o abriu. Infeliz vem de infelice(m), no acusativo (caso normal na passagem do latim para o português), com passagem do c a z, depois de muita evolução fonética. Consulte para este assunto por exemplo a Gramática Histórica da Língua Portuguesa, do prof. José Joaquim Nunes, editada em Lisboa, donde poderá mandá-la vir, pois julgo não estar esgotada.

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