Tem-se considerado a Academia das Ciências de Lisboa como entidade encarregada de dar indicações sobre a língua, em Portugal. Os vocabulários ortográficos de 1940 e de 1970 foram publicados pela Imprensa Nacional, e, por isso, respeitados como uniformizadores. A mais recente obra da Academia, o «Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea», não foi publicada pela Imprensa Nacional. Faz, além disso, uma abertura excessiva aos estrangeirismos, susceptível/suscetível de confusões e inclui adaptações que escandalizam algumas pessoas extremosas (veja as minhas respostas anteriores sobre este assunto). Por todos estes motivos, não posso, nos meus trabalhos, considerar esta última obra da Academia como padrão em todas as suas indicações. Aliás, num artigo de Carlos Câmara Leme, diário "Público" de 2001-MAI-11, referia-se, segundo se pode ler em Controvérsias (sic): «Por outro lado, diz Mariano Gago, a ACL "não é 'a' autoridade detentora da verdade sobre a língua portuguesa", e sublinha que há muitos pólos de investigação. "No ministério estamos a dar uma grande prioridade ao processamento computacional da língua portuguesa. ….."». Mas esta minha posição não significa que aconselhe que se ignore este dicionário. Penso que deve ser consultado sem preconceitos, mas num critério de moderação. Dado que já por várias vezes me referi em Ciberdúvidas a este dicionário quase sempre para apontar defeitos, acho agora oportuno, honestamente, indicar que a obra tem também virtudes: Uma delas é o facto/fato de a Academia ter corajosamente aceite muitos termos bem formados, já há muito em uso na língua, até hoje condenados por alguns vernaculistas num critério excessivamente purista. Tratando-se dum trabalho demorado e vasto, não deve ser menosprezado de ânimo leve. O seu preço, muito elevado, torna-o de propriedade dificilmente acessível ao estudante da língua com fracos recursos. Cf. Controvérsias.