Este assunto é curioso e merece um estudo mais aprofundado.
Para ter mais certezas, troquei impressões com o Sr. Prof. Peixoto da Fonseca, também consultor de Ciberdúvidas, um linguista com profundos conhecimentos da história da língua. Ora a sua opinião é igual à minha: tradicionalmente, um beco tem sido «uma ruela sem saída». O Dr. Peixoto da Fonseca acabou mesmo por me lembrar que beco se traduz por «impasse» em francês e que no dicionário em que viu a definição de «impasse», esta significava «rua sem saída».
José Pedro Machado, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, projecto da Sociedade da Língua Portuguesa, afirma também para beco:
Dificuldade, entalação, de que não se pode sair. Lugar para onde o gado pode fugir.» Por outro lado, na edição da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira em meu poder refere-se que beco sem saída é uma expressão familiar.
Eu e o Sr. Prof. Peixoto da Fonseca continuamos a pensar que a expressão beco sem saída é uma redundância. Como tal, deve ser evitada num texto exigente, caso nos estejamos a referir a uma ruela.
O problema não se põe se a expressão for aplicada em sentido figurado. É justamente esta a nota que aparece no Dicionário da Porto Editora: «..... ; [fig.] beco sem saída embaraço de que não se pode escapar; situação de grande dificuldade.»
Mas esta minha posição não significa que vá continuar a teimar `intransigentemente´ na mesma ideia, sem nenhuma alteração. Nestes nove anos de edições, já fui mudando em muitas coisas. A língua está em evolução permanente (nos últimos tempos quase explosiva, com os novos termos dicionarizados); e vai mal quem insiste em ignorar a mudança.
Agradeço ao consulente Bernardo Matos o pormenor invulgar com que estudou este assunto. Quanto à etimologia de beco, informo-o que José Pedro Machado, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, não dá certezas absolutas.
As obras que o consulente referiu merecem-me o maior respeito. O que não me impede de pensar que se terá verificado, ao longo do tempo, uma influência da frase familiar beco sem saída no conceito que apareceu para beco. O raciocínio terá sido: se há becos sem saída, há becos com saída... Então, de «nenhuma saída» inicialmente, o conceito de beco terá evoluído para «rua estreita e curta, geralmente fechada num extremo.» (ex. Dicionário Aurélio); e, finalmente, para: «rua estreita e curta que às vezes não tem saída» (ex.: Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea), e, nesta definição, pode interpretar-se que os becos até já em geral terão saída, pois só às vezes é que a não têm... Não posso dizer que, neste último conceito, a nossa edilidade esteja errada...
Um consultor de Ciberdúvidas, que igualmente respeito pelos seus excelentes conhecimentos na nossa língua, escreveu-me dizendo que este assunto é «um belo tema para barbarismos que passam a ser lei». Eu não vou tão longe. Digo unicamente que temos de nos conformar quando o uso estiver a fazer lei. A condição é que esse uso não deva escandalizar as pessoas que respeitam a história das palavras e a índole da língua...
Ao seu dispor,