Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Tenho uma dúvida quanto à forma como se deve escrever quando nos referimos a uma localidade nomeadamente:

Diz-se «Sou da Póvoa de Atalaia», ou «Sou de Póvoa de Atalaia» (sendo Póvoa da Atalaia uma aldeia)?

E «Sou de Fundão», ou «Sou do Fundão» (sendo Fundão uma cidade)?

Obrigado.

Resposta:

Os topónimos apresentados pelo consulente são acompanhados de artigo: «o Fundão» e «a Póvoa de Atalaia». O facto de o Fundão ser uma cidade e a Póvoa de Atalaia ser uma localidade mais pequena em nada interfere no uso de artigo.

Segundo a Gramática do Português Contemporâneo (Celso Cunha e Lindley Cintra, 2003, p. 225), há um «grande número de nomes próprios que exigem obrigatoriamente o acompanhamento de artigo definido». Isto acontece devido a diversos fatores, sendo aquele que nos interessa, neste caso específico, o «de ser o nome próprio originariamente um nome comum, constituído com o artigo» (idem) – ex.: «O Porto» (cidade) – «o porto» (dos barcos).

Pegando nos exemplos em questão, verificamos que Fundão é um topónimo que deriva do adjetivo fundão (grau aumentativo do adjetivo fundo; cf. dicionário da Porto Editora, em linha); que Póvoa deriva de póvoa – «pequena povoação; povoado, vilarejo» (ibidem); e Atalaia é outro topónimo, resultante da conversão de atalaia, «torre ou lugar de vigia em situação elevada» (ibidem)1. Sendo assim, Fundão e Póvoa devem ser usados com artigo definido, seguindo o critério de Celso Cunha e Lindley Cintra, acima transcrito. No entanto, ao consultarmos o sítio da Câmara Municipal do Fundão, na Internet, verificamos que a Póvoa de Atalaia é referida como «Póvoa de Atalaia» – sem artigo, tanto Póvoa como Atalaia –, na expressão «Junta de Freguesia de Póvoa de Atalaia e Atalaia do Campo», sem levar em conta o critério de Cunha e Cintra. Supomos que este us...

Pergunta:

Encontrei as expressões «nada de especial» e «o que de mais importante», cuja estrutura não entendo bem. É do uso comum a estrutura um substantivo + de + um adjetivo? Pensava que deveriam ser «nada especial» ou «nada de importância», e a outra, «o que de mais importância».

Resposta:

As expressões apresentadas pela consulente ocorrem com pronomes indefinidos (incluindo a expressão «alguma coisa») e a construção relativa «o que», e não há nada que conteste a construção das mesmas. Semanticamente, «nada de especial» significa que estamos perante alguma coisa ou situação que não tem muita importância («… é apenas um teledisco nova-iorquino, com três minutos de duração e nada de especial a assinalar» – Corpus do Português, in Público, 1998) ou não é muito boa («o bolo não é nada de especial»). Já a expressão «o que de mais importante» salienta uma característica com relevo e importância («Talvez por isso, o que de mais importante a coletividade possui é esse sentido de apoio interior» – Corpus do Português, in Público, 1994).

Evanildo Bechara refere-se a esta construção na sua Moderna Gramática da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, Lucerna Editora, 2002, págs. 551), salientando o caso de «alguma coisa de bom», como expressão equivalente a «alguma coisa boa», mas com diferente comportamento sintático:

«Em alguma coisa de bom, o adjetivo não concorda com coisa, sendo empregado neutralmente (como algo de novo, nada de extraordinário, nada de trágico, etc.)

Por atração pode fazer-se a concordância do adjetivo com o termo determinado que funciona como sujeito da oração:

"Que tinha pois, Ricardina, de sedutora!" [Camilo Castelo Branco]

"Amor próprio d...

Pergunta:

"Desertificação" e "desertização" são dois conceitos diferentes. Contudo, dizemos que um lugar está desertificado, mas podemos também dizer que está "desertizado"?

Agradeço a atenção.

Resposta:

Nenhum dos dicionários consultados regista o substantivo "desertização" nem o verbo "desertizar", a partir do qual se forma o particípio passado "desertizado". Note-se, no entanto, que em língua espanhola estão dicionarizados os verbos desertizar e desertificar (Diccionario de la Lengua Española, Real Academia Espanhola) com o sentido que é dado ao verbo português desertificar – «causar ou sofrer desertificação» (Dicionário Eletrônico Houaiss). Talvez a confusão se prenda com este facto. De qualquer modo, em português, diz-se que um lugar está deserto (= «vazio, abandonado») ou desertificado (= «que se tornou desértico, árido» ou «despovoado»; cf. Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora).

 

 

Pergunta:

Pretendo saber o significado da palavra briche.

Resposta:

De origem controversa, provavelmente ligado ao inglês British («britânico, da Britânia»), o substantivo briche designa um «tecido de lã castanho-escuro, felpudo e grosseiro, usado na confeção de roupas masculinas» (Dicionário Eletrônico Houaiss, 2001).

Pergunta:

Qual é o significado de «armazém de retém»?

Resposta:

O Dicionário da Porto Editora define armazém de retém como sendo o local «onde se guardam os artigos cuja venda ou utilização pode ser demorada».