Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta da repórter da RTP 1*, sobre o estado de saúde de Eusébio: «E quanto à possibilidade de [Eusébio] sair dos cuidados intensivos para o piso de medicina, após os exames que ainda faltam fazer, poderá equacionar-se essa possibilidade?»

«Após os exames que ainda falta fazer»: assim deveria ter sido dito. Com efeito, o sujeito do verbo faltar é «fazer os exames», um sujeito oracional que leva o verbo para o singular: «Ainda falta fazer os exames», «após os exames que ainda falta fazer».

«O militar de Pombal estava encarregue de garantir a segurança do público», escrevia-se numa notícia do jornal 24 Horas, de 22 de Abril, sobre um graduado da PSP que foi colhido por um carro de rali.

No Telejornal (RTP 1) de segunda-feira (16 de Abril), numa reportagem sobre o facto de mais de 60 Câmaras Municipais não terem entregado os planos de defesa da floresta contra os incêndios, o ministro da Agricultura de Portugal, Jaime Silva, referiu o seguinte: «Depois desta démarche da autoridade florestal, desta última tentativa de termos todos os planos municipais concluídos, (…) aplica-se a legislação.»

Perpetrar, e não “prepetrar”, como se ouviu numa notícia do Jornal da Tarde, da RTP 1 (16 de Abril): «Os atentados prepetados por cinco bombeiros suicidas (…) deixaram os habitantes de Casablanca em estado de choque.»

Perpetrados, particípio passado do verbo perpetrar, que significa praticar, realizar, cometer. Provém do latim perpetrare (= «fazer completamente»).

Pergunta:

Gostaria de saber qual o significado e a explicação do seguinte provérbio português: «Todo o burro come palha, o que é preciso é saber dar-lha.» 

Muito obrigada.

Resposta:

O provérbio é o seguinte: «Todo o burro come palha, a questão é saber dar-lha.»

Este provérbio significa que «é sempre possível convencer alguém de que uma determinada ideia ou posição é boa: a arte está nos argumentos utilizados»; «podemos sempre levar os outros a concordar connosco, desde que saibamos defender bem as nossas ideias»; «é sempre possível levar alguém a fazer o que nós queremos, desde que tenhamos a arte de o convencer»; «mesmo que uma pessoa não queira algo, é sempre possível levá-la a aceitar ou a querer isso, desde que saibamos apresentar a situação de uma forma convincente».

O provérbio pode mesmo significar, literalmente, que toda a gente é capaz de comer algo de que, em princípio, não gosta, se for apresentado ou preparado de uma forma que lhe agrade. Por exemplo, há quem não aprecie bacalhau cozido, mas goste de bolinhos de bacalhau ou bacalhau com natas. O bacalhau (a essência do prato) pode não ser muito apreciado por alguém, mas, habilmente preparado com outros ingredientes, é muito bem aceite.

Se analisarmos o provérbio, vemos que ele tem como referentes o burro e a palha. A palha é um alimento seco utilizado na alimentação dos animais herbívoros, nas regiões pobres de pastos, em que o feno escasseia, ou no Inverno. As palhas são forragens formadas pela parte aérea de diversas plantas, particularmente gramíneas e leguminosas, cultivadas para lhes obter o fruto: há palhas de trigo, de aveia, de centeio, de cevada, etc. O valor nutritivo das palhas é, pois, baixo, dado o grão lhes ter sido retirado e o alimento já estar seco. O burro é um animal herbívoro, que come erva fresca e grãos, mas, quando estes alimentos escasseiam, aceita comer a palha misturada com grãos ou mesmo a palha sozinha, apesar do seu menor valor alimentar.