Pergunta:
Sou brasileiro e estava "navegando" por essa Página, quando encontrei a seguinte dúvida de um leitor (Cf. Concordância do predicado):
Na frase:
«Nenhum mal, nenhuma catástrofe, nenhum desastre, podia (ou podiam?) perturbar a sua austeridade e rigor de conduta».
O predicado deve ter em conta um só sujeito e ficar no singular ou considerar vários sujeitos e pôr-se no plural?
O consultor João Pinheiro diz que o singular é preferível. Não sei se as regras gramaticais, para este caso, são as mesmas no Brasil e em Portugal, mas estou quase certo de que, segundo as nossas gramáticas, o verbo deva ficar no plural, porque TODOS OS SUJEITOS (nenhum mal, nenhuma catástrofe e nenhum desastre) realizam a ação de PODER PERTURBAR. O verbo só pode ir para o singular quando apenas um dos sujeitos puder realizar a ação. Exemplo:
O Brasil ou a França ganhará a Copa da Mundo
No exemplos acima, apenas UM poderá ganhar. Agora, outro exemplo:
A raiva ou a insegurança a atrapalham.
Neste caso, ambos a atrapalham; logo, verbo no plural. Não é o que ocorre com o exemplo do leitor? Gostaria que, se possível, verificassem isto.
Obrigado.
Resposta:
Nota. – Deve-se dizer concordância do verbo em vez de concordância do predicado. E agora vejamos as seguintes frases:
(a) Nenhum mal, nenhuma catástrofe, nenhum desastre podia perturbar a sua austeridade e rigor de conduta.
(b) O mal, a catástrofe, o desastre não podiam perturbar a sua austeridade e rigor de conduta.
Segundo a «Novíssima Gramática da Língua Portuguesa» (26.ª ed., p. 279) de Domingos Paschoal Cegalla, brasileira e muito boa, quando o sujeito é composto, «é lícito (mas não obrigatório) deixar o verbo no singular», «quando os núcleos do sujeito formam sequência gradativa». É o que se dá mais ou menos na frase (a). Há alguma sequência gradativa em «...mal... catástrofe... desastre...». Digo «alguma», porque, se catástrofe mostra grau mais elevado do que mal, desastre pode não ter grau mais elevado do que catástrofe.
A esta doutrina acrescento o seguinte:
O determinante nenhum dá relevo ao singular mal, ao singular catástrofe e ao singular desastre. Esta ideia de singularidade é ainda reforçada por fazermos uma pausa grande em cada um destes substantivos, quando lemos a frase. Daqui, o emprego do verbo no singular e o ser preferível empregarmo-lo no singular.
Na frase (b), não há algum nem a pausa longa a evidenciar a singularidade. Por isso não aceitamos o verbo no singular.