Ângela Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ângela Costa
Ângela Costa
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Bolseira de Doutoramento da Universidade Nova de Lisboa; Investigadora do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa e do L2F - Laboratório de sistemas de Língua Falada do INESC-ID. Ver CV aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Nenhum dos dicionários de língua portuguesa que consultei ― Porto Editora, Houaiss, Texto Universal, Lello, Aurélio, Academia das Ciências, Priberam ― inclui o verbo «desreconhecer», utilizado no domínio económico com referência a ativos financeiros, ou na esfera política, indicando a retirada da legitimidade ou reconhecimento político de um partido, sindicato, organização ou Estado. Será que existe tal termo, ou tratar-se-á de um anglicismo ― «derecognise/derecognize» ― ainda não dicionarizado?

Resposta:

De facto, o verbo desreconhecer não se encontra atestado em nenhum dicionário português por nós consultado – Houaiss e Aurélio. No entanto, na esfera económica, o nome desreconhecimento, que pressupõe a formação potencial do verbo desreconhecer, é bastante recorrente, e são várias as suas ocorrências no Jornal Oficial da União Europeia. Aqui apresentamos algumas delas:

«Desreconhecimento é a remoção de um ativo financeiro ou de um passivo financeiro anteriormente reconhecido do balanço de uma entidade.»

«O ganho ou perda decorrente do desreconhecimento de um ativo intangível deve ser determinado como a diferença entre os proventos líquidos da alienação, se os houver, e a quantia escriturada do ativo.»

«O efeito na data de transição do desreconhecimento de activos intangíveis que não qualificam como activos à luz dos IFRS corresponde a uma redução dos capitais próprios no montante de 10 372 milhares de euros, líquido de impostos.»

Apesar de desreconhecimento poder ser considerado um anglicismo, por se tratar de tradução literal de derecognition, a verdade é que na terminologia económica o seu uso é recorrente.

Pergunta:

Qual o significado e a origem da expressão «tarde piaste»?

Resposta:

Segundo o Novo Dicionário de Expressões Idiomáticas, «tarde piaste» diz-se a alguém que chegou tarde ou interveio tarde num assunto. É dizer alguma coisa depois de passado o momento oportuno, dar uma explicação tardiamente, quando já não pode ter qualquer efeito sobre a situação.

Em relação à origem da expressão, está terá origem latina, sendo a sua tradução «sero venisti». Mediante a consulta da Web, surgiram duas explicações para a sua origem. Segundo uma delas, a expressão refere o milhafre, uma ave que não costuma apanhar as presas vivas, mas que por vezes apanha um pintainho ainda vivo e o devora. Mesmo que pie, já não terá salvação possível. A outra versão é a história de um galego, que estava a comer ovos crus, ao engolir um que não estava fresco, já na garganta piou um pinto e, assim, este observou: «Tarde piaste!» (Raimundo Magalhães Jr.)

Pergunta:

Devemos dizer «Gare Marítima de Alcântara», ou «Estação Marítima de Alcântara»? Encontro as duas ocorrências para a definição do mesmo espaço...

Agradeço antecipadamente a vossa atenção.

Resposta:

Apesar de gare ter a reprovação dos mais puristas, acontece que, mesmo em documentos oficiais, se usam mais as expressões  «Gare Marítima de Alcântara» e «Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos», que designam dois famosos edifícios da zona portuária de Lisboa. É assim, de resto, que estes imóveis aparecem mencionados nas páginas do sítio do Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (IGESPAR).

Note-se que, segundo o Dicionário Houaiss, gare, tal como estação, significa «local de embarque e desembarque de viajantes e mercadorias nas estradas de ferro ou por via marítima». Sobre gare, o mesmo dicionário anota que os puristas consideram a palavra um  galicismo substituível por estação («de caminho de ferro»; no Brasil, «estrada de ferro»)». Gare vem do francês gare, que significa «lugar separado num rio para servir de abrigo às embarcações ou para lhes permitir deixar outros comboios passarem» (idem).

Refira-se ainda que, pretendendo referir qualquer estação de comboios (isto é, trens, para os consulentes brasileiros), se usa comummente estação. No entanto, é mais conhecido como Gare do Oriente o edifício da autoria do arquiteto espanhol Santiago Calatrava que assinala um importante nó ferroviário de Lisboa, na zona ...

Pergunta:

Não encontrei a palavra toboágua em dicionários ou gramáticas, nem no VOLP ou entre as respostas do Ciberdúvidas. Pergunto, então, como devo inserir a palavra toboágua em um texto técnico (com algum estilo ou sinal especial?), já que parece não estar dicionarizada?

Ainda que toboágua signifique «escorregador aquático», preciso empregar o termo toboágua, e não a expressão equivalente.

Obrigada pela atenção!

Resposta:

A palavra toboágua está dicionarizada. Segundo o Dicionário de Usos do Português do Brasil (Francisco S. Borba, 2002), toboágua é «um tobogã que termina dentro de água: "O SESC dispõe de parque aquático com 5000 m2 de espelho-d’água, toboáguas, correntezas e brinquedos aquáticos"».