Ana Carina Prokopyshyn - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Carina Prokopyshyn
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Ana Carina Prokopyshyn (Portugal, 1981), licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (2006) e mestre em Linguística Geral pela FLUL (2010). Desde 2010 frequenta o doutoramento em História Contemporânea (Lusófona e Eslava). Participou com comunicações e a nível da organização em várias conferências internacionais, e presta serviços em várias instituições como professora de Português para estrangeiros, tradutora e revisora. Atualmente é leitora de Língua e Cultura Russa I e II na mesma universidade e investigadora no Centro de Línguas e Culturas Lusófonas e Europeias. Colabora como consultora de língua Portuguesa no Ciberdúvidas desde 2008.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber a origem do sobrenome Valente.

Resposta:

Valente vem do latim Valente, que significa «forte, robusto, saudável, poderoso, enérgico». Foi nome de dois imperadores romanos, tendo o mais importante vivido entre 328 e 378. Valente (apelido), antiga alcunha, vem do adjectivo valente, atestado no século XV.

Fontes: Machado, J. P., 1984, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte.

Pergunta:

Na minha família, Viríssimo passa com relativa facilidade de VIR... para VER... Viríssimo é apelido e Veríssimo é nome? Viríssimo — superlativo (sic) de varão, e Veríssimo — superlativo (sic) de verdadeiro? Esta alteração da primeira vogal surge até em documentos e citações oficiais. Será que Erico Veríssimo, grande escritor brasileiro, por ser tão conhecido, está a causar-nos confusão?!

Grato pela vossa resposta, sou VIRÍSSIMO.

Resposta:

Tal como referiu, Veríssimo e Viríssimo provêm de duas raízes morfológicas diferentes: Vir-, do latim, vir, viri, «homem, varão», elemento de composição que ocorre em vocábulos como: virago, virícola, viricultura, viril, virilescência, virilismo, virilizar, virilizável, virilocal, virtuoso, etc.»; Ver-, do latim, verus,a,um, «verdadeiro, verídico, real». Não se trata, portanto, de uma alteração de vogal, mas de uma composição diferente de um  apelido. Ambos, Veríssimo e Viríssimo, são atestados em inúmeros registos.

Pergunta:

Como identificar se uma oração é subordinada substantiva subjetiva ou predicativa? Muito por favor, sejam minuciosos, porque, pra mim, não há diferença alguma em dizer que «É fato que todos estudam» a oração seja subordinada substantiva subjetiva, ou seja, «Isto [que todos estudam (sujeito)] é fato» de «Fato (substantivo, logo núcleo do sujeito) é [que todos estudam] (predicativo)». Ajudem-me! Mui grato.

Resposta:

As orações subordinadas substantivas (em itálico nos exemplos) subjectivas caracterizam-se pela particularidade de apresentarem o verbo da oração principal na 3.ª pessoa do singular, e numa destas quatro ocorrências:

1) Verbo na voz reflexiva de sentido passivo:
«Sabe-se que tudo vai bem.»
2) Verbo na voz passiva (ser, estar, ficar), seguidos de particípio:
«Ficou provado que estava inocente.»
3) Verbos ser, estar, ficar seguidos de substantivo ou adjecivo:
«Está claro que consentirei.»
«Ficou certo que me telefonariam.»
4) Verbos do tipo parece, consta, ocorre, corre, urge, importa, convém, dói, punge, acontece:
«Parece que vai chover.»
«Acontece que todos já foram punidos

As orações substantivas predicativas complementam, na maioria das vezes, o verbo ser:

«A verdade é que não ficaremos aqui.»

Fontes: Bechara, E. 2006. Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro: Editora Lucerna.

Pergunta:

Como se escreve?

«Vou co-organizar», ou «vou coorganizar»?

Obrigado.

Resposta:

Esta é, sem dúvida, uma questão problemática. O acordo ortográfico de 1990 prescreve a aglutinação: coorganizar. Contudo, vários prontuários ortográficos e dicionários, por se regerem pelo acordo ortográfico anterior, de 1945, registam ainda este tipo de vocábulos com hífen, explicando que a hifenização depende da noção de composição (ex.: co-aluno), da independência fonética (ex.: co-opor), e do grafema inicial do elemento prefixado (ex.: co-herdar).

No acordo de 1945 estabelece-se (na Base  XXIX, alínea 9.°) que compostos formados com o prefixo co-, quando este tem o sentido de «a par» e o segundo elemento tem vida autónoma: co-autor, co-dialecto, co-herdeiro, co-proprietário. Mas há excepções a estas regras, como coabitar, por exemplo.

Segundo o acordo de 1990 (BASE XVI: DO HÍFEN NAS FORMAÇÕES POR PREFIXAÇÃO, RECOMPOSIÇÃO E SUFIXAÇÃO), o prefixo co- deve ocorrer sempre aglutinado ao radical. De certa forma, o emprego ou não do hífen relaciona-se com a consagração do uso, ou seja, quanto maior for a frequência de um vocábulo com determinado prefixo, mais facilmente aceitamos a aglutinação. Veja-se, po...

Pergunta:

O que é a relação de c-comando?

Ex.: «As Donkey Sentences são um tipo de estrutura em que não existe relação de c-comando entre o antecedente e o pronome.»

Obrigada.

Resposta:

C-comando é uma abreviatura convencional da expressão «comando de constituinte», e que faz parte da Teoria da Regência e Ligação (Chomsky, 1981). A relação c-comando é definida configuracionalmente, ou seja, em termos da posição de constituintes numa determinada frase. A estrutura de constituintes de uma frase pode ser representada esquematicamente por Indicadores Sintagmáticos (esquema em árvore ou parentetização). Numa representação em árvore, cada constituinte corresponde a um nó, cada nó, por sua vez, corresponde a uma categoria sintagmática: F (frase), SN (sintagma nominal), SV (sintagma verbal), SA (sintagma adjectival), SP (sintagma preposicional), SAdv (sintagma adverbial).

Vejamos a noção de c-comando:

Um nó A c-comanda um nó B sse:

(i) A não domina B e B não domina A

(ii) O primeiro nó ramificado que domina A domina igualmente B

Vejamos o seguinte exemplo:

[ [A Ana]SN [fugiu]SV ] F

Neste exemplo, o sintagma nominal c-comanda o sintagma verbal, e ambos são dominados igualmente pela frase. SN e SV são, numa estrutura em árvore, nós irmãos, e F é o nó que os domina.

Referência: Chomsky, N. 1981. Lectures on Goverment and Binding, Dordrecht: Foris