Português na 1.ª pessoa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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O leitor Vítor Gonçalves propõe para tratamento nesta crónica a questão da contracção ou não contracção da preposição com o artigo.

É um problema miúdo, pouco visível e, no entanto, revelador do grau do conhecimento (ou sensibilidade) que o falante tem em relação à estrutura da língua.

Todos sabemos que, em português, as preposições se contraem com os artigos: de (do, dum, desse, dele, daqui); em (no, num, nesse, nele); por (per + o = pelo).

«Alguém que se tenta passar por aquilo que não é não está a cometer um lapso, está a ter uma falta de carácter, que mina a credibilidade e afecta a sua autoridade (…).»

Nesta frase*, o pronome se está a mais. O verbo tentar – que significa «fazer um esforço para», «experimentar», «aventurar-se a», «empregar meios para conseguir» – não se usa reflexamente.

Além da confusão no emprego do aonde e do onde, temos também o mesmo sobre a diferença entre o onde e o em que. Foi o que se ouviu a António Vitorino*, referindo-se à instabilidade em Timor-Leste.

Como (e o que) consultar no Ciberdúvidas

1. Além de um consultório, que responde a todas as dúvidas à volta da língua portuguesa, este espaço integra 12 outras rubricas dos mais diversificados conteúdos. É o caso da Antologia (textos de autores lusófonos de todos os tempos sobre o idioma comum, distribuídos por país), do Correio e das <a href="/controversias.php"...

<i>De encontro a</i> ≠ <i>ao encontro de</i>

Mais uma confusão no emprego do «ir de encontro a» e do «ir ao encontro de»:

«O que não vem entre aspas faz parte do texto do jornalista. E este tem liberdade de escrever como bem entender, desde que respeite as normas jornalísticas e vá de encontro ao sentido do texto que está a escrever. O que aconteceu neste caso.»

(...)

«É um assunto para depois do intervalo — anunciou o apresentador do "Jornal da Tarde" * —, onde vamos conhecer também o último trabalho de Paulo Gonzo. Até já.»

Onde emprega-se a respeito de espaço, lugar, sítio, terra: «A terra onde ele viveu»; «a cidade onde casou»; «a casa onde mora».

Notícia do "Telejornal", na RTP 1, 8 de Abril p.p., sobre um assalto à mão armada, numa gasolineira, em Benavente: «O crime verificou-se pelas 9 horas da noite, quando a única funcionária da bomba, acompanhada pela filha, fechava a estação de serviço. Nessa altura é abordada por homens encapuçados e armados com caçadeiras.»

As siglas têm a grande vantagem de poupar espaço (na folha de papel ou no tempo da elocução). A junção das iniciais de cada palavra de uma expressão abrevia e compacta formulações mais ou menos extensas.

Parece, pois, ser um processo de formação simples e cómodo, mas não é.

«Foram apreendidas cerca de uma tonelada de matérias perigosas.»*

«Foi apreendida cerca de uma tonelada de matérias perigosas»: assim deveria ter sido escrito.

Com efeito, o sujeito da forma verbal «foi apreendida» é «uma tonelada», um termo que está no feminino e no singular. Não importa se a tonelada é «de matérias perigosas» (plural) ou «de peixe» (singular).

Outros exemplos: «Foi apreendida uma tonelada de carapau»; «foram apreendidos quatrocentos quilos de carapau».

«Estão todos convidados – aqueles que estão aí em casa – a virem  até à Praça da Devesa.»*

Foi aqui utilizado o infinitivo flexionado («virem»), mas nesta frase não era necessário flexionar o infinitivo («Estão todos convidados a vir até à Praça da Devesa»), pois esse infinitivo é um complemento do adjectivo verbal «convidados», não havendo alteração de sujeito.
Outros exemplos: «Eles foram convidados a participar»; «eles estão cansados de esperar».